Querida Sofia,
Afloram em mim sentimentos variados: desejo de conversar com desconhecidos/as, medo de expressar minhas indignações mais pueris, euforias instantâneas, vontades de tatuagem, insatisfações de espelho... Não sei o motivo da confusão. Melhor é não saber o motivo e não iludir-me de que elaborações acerca deste emaranhado de sensações possam me tirar desse lugar de estranhamento que me encontro.
Lembrei de um tempo em que meu ofício era tentar ser outra pessoa e camuflar meus sentimentos. Antes, saber das minhas angústias era motivo suficiente para fechar os olhos e ignorá-las. Hoje, ainda gritam medos e buracos, mas a vontade é fazer um filme do olhar que me prende às minhas próprias ausências. Voar para longe com asas impulsionadas com o que não dou conta.
Quer voar comigo?
Beijos de sempre.
Wolney
Imagem capturada em http://jsexson.blogspot.com/2008/07/swooshing-angel-wings.html
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
EmbalaEu
Sr. Volante
Em Goiânia, ou você garimpa paciências em cada rotatória ou você se transforma no Sr. Volante.
Imagem capturada em http://ogrices.blogspot.com/2009/02/o-rio-de-janeiro-continua-caspita-que.html
Imagem capturada em http://ogrices.blogspot.com/2009/02/o-rio-de-janeiro-continua-caspita-que.html
sábado, 7 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Cartografias Sentimentais*
Cartografia em 8 sentidos.
Minha cartografia de afetos
Vejo, ouço, penso, desenho, imagino, escrevo e re-escrevo... solitariamente ou em grupo. Traço em qualquer restinho de papel, apreendendo as idéias e carregando comigo o mínimo delas para que me ajudem a cartografar experiências variadas. Imagens/escritas delineam espaços sem medidas e (re)criam tempos de afetos variados. Mapas que tencionam acessos e geram novos modos de ver e sentir.
(*) Suely Rolnik
Imagens: Wolney Fernandes
Minha cartografia de afetos
Vejo, ouço, penso, desenho, imagino, escrevo e re-escrevo... solitariamente ou em grupo. Traço em qualquer restinho de papel, apreendendo as idéias e carregando comigo o mínimo delas para que me ajudem a cartografar experiências variadas. Imagens/escritas delineam espaços sem medidas e (re)criam tempos de afetos variados. Mapas que tencionam acessos e geram novos modos de ver e sentir.
(*) Suely Rolnik
Imagens: Wolney Fernandes
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Orfandade
Da última vez que tentei, não consegui. E senti vergonha. Qual será o castigo para um filho que não lembra mais o rosto do pai? Tento, por vezes, me redimir e invento traços que definam aquele rosto... que definam aquele pai de 18 anos atrás.
De herança ele deixou o furo no queixo, a viola que ele amava e um avô que eu passei a conhecer depois que ele se foi. Minhas invenções buscam preencher os espaços em branco que a memória teima em deixar. Esboço seu rosto inúmeras vezes, mas as linhas inventadas por mim, ruidosamente tropeçam em minhas próprias feições: rosto sisudo, queixo retraído... calado.
Confesso seu nome inúmeras vezes diante de meus esquecimentos, mas nunca sou perdoado. Lembranças em banho-maria, os rabiscos melados de mim e oportunidades para o silêncio.
[...]
Na imagem do meu pai, as cores da vida e as dores da morte se confundem. Talvez por isso, ainda seja tão difícil.
"Pai, minha invenção de você foi um fracasso. Mas se tivesse dado certo, talvez eu não me sentiria tão órfão agora".
Imagem: Wolney Fernandes
De herança ele deixou o furo no queixo, a viola que ele amava e um avô que eu passei a conhecer depois que ele se foi. Minhas invenções buscam preencher os espaços em branco que a memória teima em deixar. Esboço seu rosto inúmeras vezes, mas as linhas inventadas por mim, ruidosamente tropeçam em minhas próprias feições: rosto sisudo, queixo retraído... calado.
Confesso seu nome inúmeras vezes diante de meus esquecimentos, mas nunca sou perdoado. Lembranças em banho-maria, os rabiscos melados de mim e oportunidades para o silêncio.
[...]
Na imagem do meu pai, as cores da vida e as dores da morte se confundem. Talvez por isso, ainda seja tão difícil.
"Pai, minha invenção de você foi um fracasso. Mas se tivesse dado certo, talvez eu não me sentiria tão órfão agora".
Imagem: Wolney Fernandes
Com Deus
Trecho de "Persépolis" de Marjane Satrapi.
"No início era o nada. Não é nada fácil de imaginar. Você tem de esquecer o que existe hoje. [...] Para ver o início das coisas você tem de deixar muita coisa de lado, inclusive sua mãe. E o que sobra? Deus e eu. [...] Deus e eu não somos tanta coisa assim. Somos bem menos do que você pensa. Somos aquela brisa que sopra a noite inteira em torno da Terra. Somos uma chuva seca. [...] Só isso. Seja como for, no início, nos estávamos lá. Era o nada, mais Deus, mais eu - e dois banquinhos para a gente se sentar."
Do livro "A Criação" de Bart Moeyaert da CosacNaify
Tirinha do Laerte.
"No início era o nada. Não é nada fácil de imaginar. Você tem de esquecer o que existe hoje. [...] Para ver o início das coisas você tem de deixar muita coisa de lado, inclusive sua mãe. E o que sobra? Deus e eu. [...] Deus e eu não somos tanta coisa assim. Somos bem menos do que você pensa. Somos aquela brisa que sopra a noite inteira em torno da Terra. Somos uma chuva seca. [...] Só isso. Seja como for, no início, nos estávamos lá. Era o nada, mais Deus, mais eu - e dois banquinhos para a gente se sentar."
Do livro "A Criação" de Bart Moeyaert da CosacNaify
Tirinha do Laerte.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Dúvida
domingo, 1 de novembro de 2009
Cubismos matutinos
Querida Sofia!
Hoje acordei pensando em limites. Em como esse blog é uma grande fantasia inventada para me caber. Odeio quanto acordo e ainda é o dia anterior. Já sentiu essa sensação? Acordar cedo e perceber que o ontem permanece em seu olhos avermelhados, com inchaços que cabem todos os afazeres do dia que se foi?
Em manhãs assim, só consigo enxergar meus cubismos diante do espelho. Sempre soube que imperfeições me atraem, mas sei também que as assimetrias, além de compor meu ideal de beleza, estão sempre expostas quando me vejo refletido ou retratado.
Tenho medo porque a sensação é que através daquele reflexo a imagem de quem sou se revela em sua totalidade. Um Dorian Gray refletido às avessas. Até gosto quando sinto medos revirando meu âmago, mas não é fácil lidar com uma dor de barriga que vira dor de alma.
Pra acalmar, desvio os olhos, sento diante do computador e escrevo. E logo eu, que seria capaz de demorar uma vida inteira no olhar.
Você já sabe todo o resto.
Beijos Picassianos!
Wolney
Imagem: Detalhe da obra "Moça diante do Espelho" de Pablo Picasso.
Hoje acordei pensando em limites. Em como esse blog é uma grande fantasia inventada para me caber. Odeio quanto acordo e ainda é o dia anterior. Já sentiu essa sensação? Acordar cedo e perceber que o ontem permanece em seu olhos avermelhados, com inchaços que cabem todos os afazeres do dia que se foi?
Em manhãs assim, só consigo enxergar meus cubismos diante do espelho. Sempre soube que imperfeições me atraem, mas sei também que as assimetrias, além de compor meu ideal de beleza, estão sempre expostas quando me vejo refletido ou retratado.
Tenho medo porque a sensação é que através daquele reflexo a imagem de quem sou se revela em sua totalidade. Um Dorian Gray refletido às avessas. Até gosto quando sinto medos revirando meu âmago, mas não é fácil lidar com uma dor de barriga que vira dor de alma.
Pra acalmar, desvio os olhos, sento diante do computador e escrevo. E logo eu, que seria capaz de demorar uma vida inteira no olhar.
Você já sabe todo o resto.
Beijos Picassianos!
Wolney
Imagem: Detalhe da obra "Moça diante do Espelho" de Pablo Picasso.
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