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sexta-feira, 17 de junho de 2011

Tatuagens [in]visíveis

Saudades da minha infância eu até tenho, mas aprendi a despi-la daquele sentimento ingênuo que insistia desfiar somente as alegrias de ser menino. Ter 9 anos pode ser bem difícil. Minha preocupação com o infinito parecia não caber no espaço da escola para casa. Minha timidez me fazia esperar mais para experimentar o que minhas vontades ofereciam em uma bandeja. Meu sonho de gente grande era trabalhar em banca de revista e desenhar me ajudava a descobrir os medos que, vez por outra, punham meu peito de castigo.

Que fique registrado: não há aí nenhum lamento. O passado, com essa cara inflexível, se revela bem maleável e mutável a cada vez que o visito. É meu presente e suas contaminações atuando no percurso da vida. Muito de mim ainda reside naquela preocupação com o infinito, mas outro tanto já consegue destampar as vontades entupidas com a rapidez do desejo e seus desmandos. Faço planos de vôo, mesmo nos meus descontroles e improvisos.

Olho no espelho e vejo que tudo que eu sou está encarnado aqui. Tatuagens [in]visíveis desenhadas nas margens mais enigmáticas da vida. Esse enigma que corre o tempo nessa margem incalculável e irredutível gera desejos de que, o tempo (ele de novo!) se apresente em pacotes enfeitados com laços de fita. E é assim que meus olhos entendem, aflitos e felizes, porque aquele menino ainda reside aqui.

Imagem: Wolney Fernandes

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