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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Carta para Sofia

Querida Sofia
Chove a cântaros aqui em Goiânia. O andamento da dissertação continua monótono e eu louco por outra vida. Talvez uma menos acadêmica em véspera de feriado. Mas é sempre assim. Deve ser signo, sina. Geminiano parece nunca estar satisfeito com nada. Você sabe disso, já que nasceu no mesmo mês que eu.

Tenho tentado reclamar menos. Já não me lamento como antes, pois meus desejados dias diferentes e um cotidiano menos maçante já começaram. Mas a quem agradecer? Aos céus?Como te disse uma vez, vivo de ciclos. Os primeiros meses de 2008 têm sido diferentes, com muita coisa acontecendo. Mas ainda teimo em arranjar tempo de olhar pro céu. E o céu acaba nos contando tantas coisas. Hoje mesmo saí antes das seis da tarde de casa. Céu cinza, nuvens descuidadas.

Em dias assim vêm à cabeça pensamentos esquecidos. Vontade de retomar planos, juntar palavras de dentro e de fora, buscar simplicidade. Não temer as frases feitas nem os sentimentos desencontrados.

Já se permitiu desejos assim, Sofia? De voltar no tempo e aproveitar dele só as coisas boas? De adiantar o tempo e viver nele tudo que for realmente significativo? Olhar para o presente e lembrar de agradecer tudo: plenitude, serenidade, harmonia.

Ando assim. Como esses trovões e relâmpagos do meio da tarde. Tentando lembrar a última vez que me senti realmente amado, desejado, querido. Tentando colar todos os fragmentos e reunir minha história num único enredo: feliz, raro, meu de fato.

Ontem retomei a releitura de “Griffin & Sabine”. Amo esse livro. É de uma angústia criativa que nos impele a sair do canto, largar a inércia e tentar mais. Nem que seja alimentando o plano imaginário (coisa que faço tão bem).

Ousadia. Foi isso que pensei no dia que decidi largar minha vida no interior e vir morar nessa cidade. Era 1997. Desde então fiz tanta coisa. E isso ninguém me tira. Ter um passado, contar a própria história, tocar nos fatos através de fotografias, cartas, bilhetes, pequenos fragmentos que enchem agendas, caixas, páginas marcadas de livros. E música. Não existe nada que evoque mais a memória afetiva que os fundos musicais que formam a trilha sonora da nossa vida.

Vou me embrulhar aqui em casa nesse dia de chuva e certo frio. Fazer “cabaninha” com o edredom e ouvir músicas antigas. Sozinho (pelo menos até domingo), mas dentro do possível, feliz.

Beijos de chuva.
Wolney

20 de Março de 2008
Imagem: Wolney Fernandes

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