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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2008 de Perigos

Deus, ao mar o perigo e o abismo deu.
Mas é nele que se reflete o céu.

Fernando Pessoa

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 30 de dezembro de 2007

Império dos Sentidos

Ver a cor da voz
Ouvir os gestos
Saborear os olhos
Sentir o perfume do toque
Tocar a alma

Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 29 de dezembro de 2007

Bicho da Maçã

Hoje, entre uma arrumação e outra, consegui pintar o "bicho da maçã" na minha camiseta nova.
Qualquer hora acabo criando uma grife só de camisetas customizadas e esclusivas.

Imagem: Wolney Fernandes

Livros na Fila

A pilha cresce a cada dia.
Livros que ganhei ou que comprei vão se acumulando na mesinha ao lado da cama.
Quando terei tempo pra saborear cada um?

Imagem: Wolney Fernandes

Sinceridade Sacana

Ainda preso aos meus devaneios tento aos poucos fincar os meus pés de leve no chão... De leve mesmo, porque como já disse Chico a gente vai sonhando, pois sem isso 'ninguém segura esse rojão'. Eu pelo menos não. Umas coisas estão bem concretas e visíveis e outras... É imaginação! Risos. Gosto muito de imaginar, não posso negar.

Fiz umas descobertas interessantes sobre mim nesses últimos tempos. Descobri que eu preciso de atenção. Nunca tinha visto isso em mim. Não sei ainda se gosto ou não dessa descoberta. Acho que não é tão ruim assim porque não é 'venha a mim tudo e ao outro nada'. Foi só uma observação.

Essa é uma das tantas coisas que gosto nesse processo duro de crescimento e/ou envelhecimento. Começo a saber de verdade o que me agrada e o que não. Sem receios, sem vergonhas. Talvez uma sinceridade sacana, não sei, mas quando é pra verbalizar, não ando economizando linhas.

Imagem: minha sombra projetada na parede do meu quarto em um final de tarde.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Women in Art

A idéia é tão simples e por isso é muito original. Um passeio por 500 anos da História da Arte ocidental através de retratos femininos.



Quem quiser conferir a lista completa dos artistas e das obras retratadas é só clicar aqui.

Natal de Descobertas

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

Alberto Caeiro

Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 22 de dezembro de 2007

Teias cinematográficas

Gosto tanto de cinema que vira e mexe fico procurando por curiosidades, trailers e músicas de filmes que ainda estão pra chegar aqui ao Brasil. As motivações são bem variadas, mas todas elas são também meio inexplicáveis. O que me fez chegar no longa "Na natureza selvagem" (Into the wild, 2007) foi um cartaz que vi outro dia no shopping. A boa impressão que tive da peça gráfica (com meu olhar crítico) me fez procurar a imagem pelo Google. Daí começou uma teia de novas descobertas: o cartaz me levou à bela trilha sonora, que me levou a Eddie Vedder, que me levou ao Pearl Jam, que me levou ao trailer, que me trouxe essa vontade de escrever no blog sobre um filme que ainda nem vi.

Tenho imaginado que os desejos de liberdades múltiplas que andam rondando meus pensamentos desvairados sejam os fios que teceram esta rede.

Façam seus próprios julgamentos.



Paradoxo do Veneno

Outro dia, visitando o blog da filósofa Márcia Tiburi, encontrei um texto sobre o paradoxo do veneno. Filosófico e poético, como ela mesma descreve, o texto me deixou impactado quando o vi no Saia Justa pela primeira vez. Até hoje ainda não tinha entendido o porquê do impacto. Agora que fui envenenado por uma rosa (qualquer hora explico tudo), posso compreender melhor a força das palavras que reproduzo abaixo:

Veneno “Destruição substancial, essência da morte, caldo da corrupção, prejuízo, perversidade, água maligna, leite do diabo. Peçonha. Ao que nos pode destruir sempre podemos dar o nome de veneno. Veneno não é outra coisa do que o princípio destrutivo cuja natureza fluída vem corromper tudo o que é vivo, bom, belo e verdadeiro. Porém, quem olha o veneno como o mero mal, não entendeu o princípio da vida. A natureza ensina que o veneno é também proteção. Quem tem coragem de enfrentar o veneno? Assim como o bem e o mal se opõem eles também se complementam. A cura está contida no próprio princípio da doença. O bem é tão forte que pode estar escondido no fundo do mais substancial do mal... Mas aí é preciso método. Como fazer para combater o veneno? Qual o seu antídoto? O veneno metáfora da vida? Aquele que não vem da picada da serpente, mas das palavras humanas quando elas se tornam bote?”

Imagem: Wolney Fernandes

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Escadas para o Infinito

Gosto da idéia de uma escada onde não se pode ver o fim.
Esta, é parte de um desenho que eu produzi numa tarde atípica.

Imagem: Wolney Fernandes

Quarto-Lugar

Gosto da vista que tenho da janela do meu quarto. Nela, o luar que atravessa os prédios do centro de Goiânia, banha parte da minha cama com sua luz serena. Nas noites de lua, deixo persiana e janela abertas só pra ouvir o barulhinho da cidade adormecendo e poder enxergar o reflexo difuso que é projetado na parede ao lado da cama.
Gosto de imaginar meu quarto como lugar de descanso e de silêncios necessários. Mas minha alma paradoxal também o vê como meu mundo particular, onde tudo que gosto e preciso esteja ao alcance das mãos.

É curioso quando percebo que nos dias agitados, ao olhar para a bagunça que me cerca tenho a impressão que estou diante de um espelho. Funciona mais ou menos assim: Se o dia-a-dia é tranquilo ele fica arrumadinho, com tudo no lugar. Se o período é caótico ele fica revirado de ponta-cabeça. Nestes dias, tenho a impressão de que "A mulher com fita amarela" que fica encostada perto do violão, me olha de jeito diferente. Seu olhar de censura só não é maior porque ela é cria do Picasso, que adorava desmantelar as coisas para reorganizá-las de um jeito bem peculiar.

Hoje amanheci com uma vontade grande de fazer um exercício cubista aqui. Revirar tudo e organizar de forma diferente. Fiquei animado, mas adiei a decisão porque estou ainda muito cansado das correrias de final de ano e não pretendo passar o final de semana que antecede o Natal organizando livros, cds, dvds e roupas... Pensei no monitor novo do meu computador que vai chegar na semana que vem (o meu antigo pifou!) e usei-o como desculpa para adiar um pouco mais a faxina.

Enquanto escrevo, olho para a bancada perto da janela e imagino: aqui, papel se reproduz com a mesma velocidade que os coelhos. Coloco 5 folhas em um dia e no outro já são 10. Todas espalhadas entre os livros. Impressionante!

Imagem: Wolney Fernandes

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Agenda da CAJU


A agenda 2008 da CAJU ficou pronta e coloridíssima.
Fiz também papéis de parede com algumas das ilustrações para enfeitar os computadores por aí afora. Quem quiser pode baixá-los clicando aqui.
A ilustração da melancia é a mais popular de todas.
(E foi a que mais gostei também) hi, hi, hi, hi!

Receita de Taxista

Foi uma surpresa quando percebi que o motorista de táxi que tinha me trazido para a pousada na chegada era o mesmo que iria me levar ao aeroporto na partida. Do alto dos seus cinqüenta e poucos anos, tagarela como ele só, reclamou da chuva durante o trajeto: Já estamos em Novembro e não tem turista em Florianópolis. Tudo culpa dessa chuva que não pára. Desse jeito o verão não chega. Um absurdo!

Resmungando assim, ele me levou até a Pousada Edelweiss. O local parecia saído de um livro de contos de fadas europeu. De cara, lembrei-me da canção da Noviça Rebelde que tinha o mesmo nome. Fiquei curioso pra saber o que significava. Perguntei pra moça que me atendeu e ela revelou que era uma flor típica da Suíça, lar dos seus avós. A pousada ficava no final de uma ladeira tão íngreme que cheguei a gelar com a sensação de que o táxi não chegaria a alcançar o cume.

Três dias depois e a chuva não tinha parado, mas o humor do taxista era outro. Cumprimentou-me com um largo sorriso como se já fossemos velhos conhecidos. Todo solícito perguntou se tinha gostado da cidade. Na realidade não tive muito tempo pra aproveitar tudo o que a cidade me oferecia, mas respondi que sim sem revelar detalhes. Arrisquei dizer que voltaria com mais tempo no período de alta temporada e ele ficou todo satisfeito. Estiquei a conversa e perguntei há quanto tempo ele morava na cidade.- Moro aqui desde que nasci e amanhã faço 40 anos de casado.Cumprimentei pela data e fiz os comentários de praxe: “Casamento duradouro assim é raro hoje em dia”. Pra minha surpresa ele tirou os olhos da estrada e, enquanto passava a marcha, proferiu com veemência:- E eu tenho a receita!Sem entender muito bem, indaguei: Receita?- Sim, receita para um casamento durar. Veja só como é fácil: Primeiro você precisa encontrar a pessoa que está predestinada para você!Sorri, disfarçando o pensamento irônico que me passou pela cabeça: Como saber quem está predestinado pra mim? Será que acende uma luzinha pra sinalizar a pessoa eleita?- Pra funcionar, a mulher tem que cuidar da parte financeira da casa. Temos conta conjunta e nestes quarenta anos é sempre ela quem faz os pagamentos. Nunca precisei assinar um cheque.

Antes que eu pudesse elaborar qualquer pensamento a respeito da segunda fala, ele continuou: - E depois, a pessoa certa tem que ser como minha esposa!Novo sorriso interno e nova pergunta: Como assim?- Minha esposa não coloca nada fora. Se sobra arroz da janta, ela faz bolinho pro dia seguinte. Se sobra carne ela faz picadinho. O café que me custaria cinco reais na rua, ela me faz tomar em casa para economizar.

Acenei com a cabeça e não consegui esconder o riso que aflorou no canto da boca. Olhei pra fora para amenizar a risada que teimava em vir à tona e avistei o aeroporto. Pelo visto, o taxista nada percebeu, pois continuou todo eufórico a narrar as peripécias da esposa para economizar o suado dinheiro que ele colocava em casa. A esta altura eu já nem ouvia mais o que ele dizia. Minha cabeça já estava imaginando como iria iniciar esse texto aqui no blog.

Imagem capturada em http://butecodoedu.blogspot.com/2006_05_01_archive.html

Loucas significâncias

Para quem duvida dos poderes que me são dados quando publico um blog:

– Não sei o que você quer dizer com "glória" – Alice disse.
Humpty Dumpty sorriu com desdém.
– É óbvio que não sabe... até que eu lhe diga. Eu quis dizer: “Há um belo argumento infalível para você!”
– Mas “glória” não significa “um belo argumento infalível” – Alice objetou.
– Quando eu uso uma palavra, – Humpty Dumpty disse com certo desprezo – ela significa o que eu quiser que ela signifique... Nem mais nem menos.
– A questão é – disse Alice – se você pode fazer as palavras significarem tantas coisas diferentes.
– A questão é – disse Humpty Dumpty – quem será o chefe... E eis tudo.

Texto: Trecho do livro Alice através do Espelho de Lewis Carroll

Imagem: Cena de Alice no país das maravilhas dos Estúdios Disney que eu ousei reproduzir usando lápis de cor e caneca bic, há 15 anos atrás.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 9 de dezembro de 2007

Um Hino ao Amor

Neste final de semana assisti o filme "Piaf - Um hino de amor". Confesso que ainda estou sob o efeito avassalador da interpretação estupenda de Marion Cotillard que vive uma Edith com todas as nuances possíveis. Seu corpo se transmuta em fragilidade e sua voz ecoa numa força que penetra nossas almas.

Sobre o filme, reproduzo abaixo o texto que o Walderes escreveu pra gente divulgar no blog da Engenho. Sobre a atriz, trago a foto dela acima para uma breve comparação em termos de caracterização. Fantástica!

"O corpo curvo que se contorce sugere a fragilidade do capim que se verga ao vento, mesmo quando suave. Até que a boca se abre e a vida, em fúria, se expressa toda lâmina, doçura e aridez. A Piaf de Hollywood é menos que a Piaf de Bibi Ferreira e muito menos que a Piaf de Edith, mas não é filme que alguém possa deixar de ver sem lamentar depois. E ver, de preferência, antes que ele vire DVD, exibido em telas minguadas, cercadas de excessiva luz e abundantes badulaques de estantes. “Piaf - Um hino de amor" merece tempo e espaço exclusivos, como aquele que só o escuro do cinema cria. Destaque para Marion Cotillard, cuja interpretação convincente nos leva da juventude à decrepitude sempre intensas de Piaf. Oscar à vista!"

sábado, 8 de dezembro de 2007

Contos de Fadas

A famosa fotógrafa Annie Leibovitz foi chamada pela Disney para fazer um ensaio comemorativo transformando celebridades internacionais em personagens clássicos e recriando momentos dos longas. No elenco: Beyoncé Knowles aparece como “Alice no país das Maravilhas”, David Beckham é o Príncipe Felipe do longa “A Bela Adormecida”, Rachel Weisz como "Branca de Neve” e outros mais que você pode baixar clicando Aqui!.
O meu preferido é o da Scarlett Johansson vivendo "Cinderela".

Chuva no carro

Na hora da chuva de ontem eu estava dentro do carro e lá fiquei.
Quietinho.
Parado.
Olhei o pára-brisa molhado e lembrei-me de uma historinha antiga do Chico Bento onde ele olhava a chuva da janela e dizia:
- Tão bunita essa chuva. Gostoso ficá oiando...

Imagem: Wolney Fernandes

Para todos os gostos e estilos

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Olhos vestidos de Rosa

Prólogo
Os passos largos e ligeiros indicavam o atraso para o evento. Na porta do auditório, os olhos vasculharam rapidamente o ambiente a procura de um lugar pra sentar. Enxergou, do lado esquerdo, uma fileira de cadeiras com apenas duas pessoas.
Passou por elas e sentou-se na última, bem pertinho da parede. As pessoas que iriam conduzir a discussão ainda estavam tentando fazer funcionar uma apresentação no computador.
Respirou fundo. Um respiro de alívio, destes que fazem o coração acalmar e o ânimo se aquietar. Só então pôde olhar à sua volta. Depois de vasculhar o ambiente, deteve-se nos olhos miudinhos, mas intensos que olhavam em sua direção de maneira diferente. Por alguns segundos resolveu encará-los, mas virou o rosto pra tirar o caderno de anotações da pasta, que trazia entre suas coisas, ainda sem ter certeza da intenção daquele olhar misterioso.

Tomo 1
Da porta da sala dava pra enxergar todo o corredor. As paredes recobertas com cartazes e trabalhos manuais faziam o ambiente ficar ainda mais carregado. Sua sala era a última, mas dava para enxergar a primeira. Lá estava o mesmo olhar, agora não tão desconhecido, mas distante e tão tímido como o seu próprio. Andou vagarosamente pelo corredor fingindo olhar os cartazes só pra chegar mais perto, mas seu jeito introvertido não permitia sequer, trocar um "oi". No entanto, dali de onde estava já dava para ver a covinha que acompanhava aqueles pequenos olhos e, vez por outra, se desenhava do lado esquerdo do rosto.

Tomo 2
Ao descer as escadas viu que uma chuva quieta e constante deixava a paisagem desconhecida meio incolor. Com passos rápidos resolveu vencer a timidez e se aproximar pra uma conversa que, de início pareceu banal, mas foi ficando consistente à medida que caminhavam juntos debaixo do mesmo guarda-chuva. Semelhanças foram estabelecidas, apresentações feitas, cumplicidades partilhadas e novos olhares trocados seguidos por risos contidos de mútuo encantamento. Olhos admirados e elogiados. Camiseta rosa. Cheiro bom. Sorriso de luz.

Tomo 3
O início da noite já se desenhava lá fora. Dentro da lanchonete, o chocolate perdia o sabor à medida que o tempo ia se esvaindo trazendo aquela sensação de impotência. Raros minutos de doce cumplicidade tornaram-se mais intensos na breve despedida. Os olhares não mais se cruzariam e a covinha seria apenas uma lembrança dúbia: ela se formava no lado direito ou no lado esquerdo do rosto?

Tomo 4
Sentado diante da tela do notebook, a imagem da camiseta rosa era sempre a primeira coisa a invadir suas lembranças e pensamentos. 31 dias. Os pensamentos rasgavam e as palavras cortavam. Às vezes nem era preciso pensar, nem ler. Bastava supor. A mutilação acontecia sem que as lâminas tivessem sido postas à mesa. A "alma dúbia" foi, aos poucos, arremessada para o infinito. Em seu lugar apenas o destino para traçar novos olhares e (im)possibilidades. Sobre isso não tinha nada a falar nem supor. Era apenas um pensamento que rasgava e palavras que, escritas, faziam sangrar os dedos.

Epílogo
O olhar que lançou pela janela alcançou a lua. Suspirou buscando para si aquela mesma sensação de calma e quietude.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Natal no 1005

O espírito do natal bateu à porta de casa hoje cedo.
Resolvi atender.
Ele entrou e foi logo se abancando com aquele ar de quem vai ficar por vários dias.
Fazer o que, né?

Imagem: Wolney Fernandes

Caçador de Borboletas

Todos os dias tenho de manter a cabeça sadia nesse labirinto gigante, escapar da Hidra, do Leão, descer até o inferno e pegar a cabeça do cão de Hades, que pode ser a perda do horário do trabalho por causa do sono acumulado, a fome que cresce por entre meus poros porque não há tempo para almoçar algo melhor do que um sanduíche natural da cantina da Faculdade de Artes (com maionese no meio!?) ou tentar dar conta de todos os trabalhos da Engenho para cumprir a jornada de um dia inteiro que parece me levar como se fosse a eternidade.

Às vezes parte de mim uma vontade gigantesca de me ausentar. De tudo e todos. Ancorar o barco e talvez virar um simples caçador de borboletas, mas não sei por onde começar. Então faço alguns exercícios mentais e começo a olhar para fora e vejo os pés de flamboyants pegando fogo em cores laranja-quentes. Na avenida que cruzo todos os dias, olho no fundo do casarão ao lado da Catedral e diante de suas cores amarelo-pálidas imagino: quanta gente haverá vivido naquela casa, que talvez só se mantenha de pé por causa das lembranças que é capaz de causar.

E ainda há quem me venha falar de trabalho. Que trabalho maior existe do que não se deixar afogar por tanta informação? Há quem me venha falar em sucesso. Que sucesso, senão aquele de se manter lúcido? São tantos mares a serem navegados. Há tanto mar, tanto a navegar, mas o porto sempre parece sedutor. Não há espaço para o fracasso no porto, mas também não há espaço para pensar nem para sentir. Tudo me diz que é preciso seguir adiante. No entanto, preciso pelo menos acreditar que um dia poderei voltar e parar.
Caçar borboletas somente.

Imagem: Wolney Fernandes