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terça-feira, 29 de março de 2011

Um único plano-sequência

O meu único plano-sequência depois de ver esse videoclipe é querer a música e a Alice Braga pra mim!

domingo, 27 de março de 2011

Em cada canto

Uma música fez a saudade do meu pai escorrer pelo meu rosto e depois plantou nostalgias em cada canto.

Ele reunia pequenos acordes para medir a alma boêmia que lhe dirigia os passos. Apesar de não ser tátil ou vísivel, seu canto era capaz de locomover sua própria existência.

Hoje, as cordas de aço estão surdas. No silêncio daquele canto não há mais modas de viola a desafinar. Está lá. E só se sabe saudade porque, mesmo ausente, ressoa memórias audíveis em traços e acordes de corpo inteiro.

Foto: Wolney Fernandes
Texto originalmente produzido para o blog Sentidos Simultâneos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Assim seja!

Naquilo que me diz respeito, prefiro acreditar que o meu compromisso é com aquilo que move meus olhos. Sou desejante de espuma, sonho e água com gás.
Aceito o gosto amargo na boca e a opacidade dos olhos que não brilham mais ao me encarar.
Sussurro a vida que pulsa toda sexta-feira insistindo em fazer da segunda um ano novo!
Não me preocupo com a devassidão e a dualidade que me habitam.
Minhas ressacas de não dormir me distanciam da imagem que eu desejo ver refletida no espelho.
Me perco em sopas de letrinhas que escorrem pelas minhas bondades e me encontro nas monstruosidades que me circundam.
Naquilo que me diz respeito assim é... e assim seja!

Foto: Wolney Fernandes

quinta-feira, 24 de março de 2011

Pé de Goiaba

Quando os pés de goiaba desenham piqueniques, ranhuras e doçuras.


Fotos: Glayson Arcanjo e Wolney Fernandes

quarta-feira, 23 de março de 2011

Precárias vontades

Vontade de habitar paredes descascadas para que as marcas do tempo em beleza se transformem.

Imagem de Yves Marchand. Olhei aqui.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sem regras

01. Escape - Philip Glas
02. Old Habits Die Hard - Mick Jagger
03. Cálice - Maria Bethânia
04. Crazy - Patsy Cline
05. Traduzir-se - Nara Leão e Fagner


A brincadeira começou assim.
Imagem capturada aqui.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Medos plantados

Na escola eu não colava por medo. Vontade eu tinha aos montes. Principalmente em dias de prova de Educação Moral e Cívica. Futebol eu não sabia jogar e, só para me enturmar, sempre me oferecia para ser o goleiro. Nem preciso dizer do pavor que fazia meu coração bater na boca quando a bola de mim se aproximava.

Nunca gostei de andar descalço e só largava os chinelos para subir em árvores no quintal. Apesar das macaquices em jabuticabeiras e pés de tamarindo eu nunca tive um osso quebrado. Só destroncado. Gesso eu nunca usei, mas sempre que precisava a Vó Ricó me benzia a espinhela caída.

Cresci e as bolas de agora ainda me assustam. Tenho medo da morte por não crer [ainda?] no sentido da vida. Repasso, mentalmente, o que precisa ser feito, mas fico adiando a elaboração do meu imposto de renda. Tenho vontade de falar o que eu quero, mas acabo engolindo o que não desce goela abaixo. Ainda me doem os pés porque descubro que os medos continuam plantados em meus quintais.

Foto: Wolney Fernandes

sábado, 19 de março de 2011

Desenformados

Depois de caminhar o dia inteiro pelas ruas da Cidade de Goiás, nossa vontade era encerrar a maratona com um bom empadão goiano. A porta do restaurante, entreaberta, trouxe dúvidas se o estabelecimento já estava funcionando. Resolvemos arriscar e entrar. Antes de chegarmos ao fim do corredor, uma mulher veio nos avisar: "Ainda não abrimos, pois os garçons só chegarão em meia hora". Perguntamos a ela se havia a possibilidade de comprarmos dois empadões para viagem. A fome aliada à vontade de experimentar a iguaria nos atravessava e foi com alegria que ouvimos a mulher dizer que era possível atender nosso pedido.

Com rapidez ela já foi preparando o pacote e desembuchou: "São R$ 9,00... [pausa] ...cada um!". Levamos um susto e perguntamos o porquê do preço elevado. Ela, displicentemente nos explicou que estávamos pagando também pela fôrma onde o empadão fora assado, pois não era possível desenformá-lo. Empertigados, argumentamos: "Mas não queremos o recipiente. O que vamos fazer com uma fôrma de empadão? Nesse caso, preferimos comer aqui mesmo".

Contrariada, ela sentenciou que só seria possível comermos ali depois da chegada dos garçons. Fomos pra porta do restaurante e sentamos na calçada à espera dos mesmos. Meia hora depois, a mulher sai pela porta e com esperança perguntamos: "Os garçons já chegaram?". Ela, toda displicente e faceirando pela calçada responde com aquele desdém típico de quem não está nem aí: "Não, eles saíram bem tarde e nem sei que horas eles chegam."

Indignados e esfomeados, abandonamos nosso posto de espera para irmos embora. No caminho, topamos com outro estabelecimento que dizia em letras bem grandes: "Empadão Goiano". Novamente animados, entramos e, sem olhar no cardápio, solicitamos: "Dois empadões e uma Coca-Cola". Na hora da conta, o moço do caixa anuncia: "São R$ 24,00". Novo susto! Nos entreolhamos e, já com a respiração fora de ritmo, arriscamos perguntar: "Qual o valor de cada empadão?". "Dez reais" é a resposta que recebemos.

A ponto de nos jogarmos pela escadaria abaixo, pagamos sem dizer uma só palavra e saímos pela rua afora com aquela sensação de patetice estampada no rosto. Pagamos R$ 1,00 a mais pelo empadão e ainda saímos desenformados.

Imagem capturada aqui.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Morangos à beira do abismo

Todas as vezes que as muitas atividades nas quais estou envolvido me colocam em abismos distantes do blog [esse espaço tão querido] eu me lembro de uma história contada por Rubem Alves:

"Um homem caminhava por uma floresta. Estava escuro porque a noite se aproximava. De repente ele ouviu um rugido terrível. Era um leão. Ele ficou com muito medo e começou a correr. Mas ele não viu o caminho por onde ia porque estava escuro e caiu num precipício. No desespero da queda ele se agarrou ao galho de uma árvore que se projetava sobre o abismo. Lá em cima, na beirada do abismo, o leão. Lá em baixo, no fundo do abismo, as pedras. E foi então que, olhando para a parede do abismo ele viu que ali crescia uma planta verde que tinha um fruto vermelho: era um morango. Ele então estendeu o seu braço, colheu o morango e o comeu. Estava delicioso."

Pendurado em precipícios, os registros no blog fazem parte da minha lista de morangos a serem comidos [em outra ocasião talvez valha a pena falar de outros morangos tão deliciosos quanto este aqui].

Por enquanto, naquilo que me diz respeito, prefiro acreditar que o meu compromisso é com aquilo que move meus olhos salivantes de sabores, espuma e sonho.

Então fica registrado e combinado assim: que os sabores substituam os sumiços!

Imagem de Michael Arnold. Achei aqui.

terça-feira, 1 de março de 2011

Sobre coleções, capas de discos e latas de leite Ninho























Minha coleção de tampinhas de garrafa eu guardava na lata de leite Ninho. Todas elas vinham com imagens dos SuperAmigos. Bastava retirar aquela rodelinha de plástico [que não existe mais] do fundo da tampinha para transformá-la em item de colecionador.

As figurinhas do Ping Pong Pantanal eram recortadas com precisão para fazer caber 12 em uma folha de papel sulfite colorido. Depois de coladas, o destino dado a elas era a pasta-catálogo em uma sofisticação que nenhuma lata de leite poderá alcançar um dia.

Na parede ao lado da cama, cuidadosamente organizados e fixados com percevejos, saquinhos plásticos exibiam meus gibis favoritos. Em convivências harmoniosas, Homem-Aranha, Chico Bento, Recruta Zero e Tio Patinhas dividiam o mesmo espaço no grande mural.

As fitas K7 continham músicas do rádio em gravações escolhidas a dedo [e muita paciência]. Ao lado delas ficavam as fitas VHS com capas fabricadas manualmente usando recortes de revistas de cinema. O que faltava era completado com letras riscadas e lapidadas pelo designer gráfico que já morava em mim sem que eu o soubesse.

Nacionais, Internacionais, Trilhas Sonoras e Clássicas são as categorias que regem a organização do meu acervo de músicas em MP3. Dentro de cada uma destas categorias há outros detalhamentos que facilitem a rápida localização da canção desejada com o mínimo de tempo possível. O toque final vem com a inserção das capas dos discos garimpadas pela internet em sessões de pura arte e meditação.

Imagem: Cena do filme "Uma Vida Iluminada". Olhei aqui.