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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Common People Reading



O Common People Reading nasceu assim:

Primeiro veio o encantamento com a descoberta do tumblr “Awesome People Reading” que, como o nome sugere, publica fotos com curtas legendas de artistas de todos os campos e pessoas célebres de todos os tempos lendo um livro, um jornal, um roteiro ou qualquer coisa. A limpeza do blog e a lindeza das fotos, com um acervo bem graúdo, renderam horas e horas de namoro e fecundação… Daí pra invencionice foi um pulo, como sempre: por que não inspirar atuais e novos leitores/as com fotos de nós mesmo, simples mortais? Seguiu-se curto período de negociação com a rede já conhecida de leitores/as e as primeiras peripécias para produzir fotos em poses criativas, obras das nossas preferências e com autores das nossas devoções. Pronto: entramos na etapa da anarquia do compartilhamento e da recriação sem fim.

Ficou com vontade de participar? Envie sua foto para wolney7@gmail.com

Texto de Walderes Brito e foto de Wolney Fernandes

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Dezessete de outubro de 2012 - Quarta


Minha rota de fuga encontrou aporte nas últimas páginas do livro "Ao Anoitecer" de Michael Cunningham que eu, depois de meses de leitura arrastada, desejava terminar. Não porque o conteúdo da obra fosse maçante, mas porque o cansaço dos últimos minutos do dia não me deixavam avançar mais do que três páginas antes de dormir.

"Quem pode decifrar a profundidade e a natureza de nossas aflições?"

Abandonei a vontade de ver um filme no meio da fila e, com o livro em punho segui para o parque em plena tarde de quarta-feira, ávido para saber o destino de Mizzy, Peter e Rebecca, vértices de um triângulo curioso. Peter Harris, dono de uma galeria de arte contemporânea, com 44 anos é casado com Rebecca e, de repente, se vê extremamente perturbado e atraído pela presença do cunhado - Ethan, apelidado de Mizzy - vinte anos mais jovem, que precisa passar uma temporada hospedado em sua casa.

Mizzy é uma provocação ao conceito de liberdade porque embora o rapaz tenha todas as possibilidades diante de si, nunca consegue se decidir por nenhuma delas. O fascínio que ele desperta em Peter [e em nós, leitores] é ainda ampliado por dois trunfos, talvez perversos demais para qualquer pessoa com mais de 35 anos: beleza e juventude.

"Juventude. Impiedosa, cínica, desesperadora juventude. Ela sempre vence, não é?"

No meio de tantos questionamentos sobre liberdade e juventude colocados no livro, este com certeza foi  o que mais me tocou. Perto dos 40 anos começamos a ficar seduzidos por esse suposto poder absoluto que reside no simples fato de ser jovem e passamos a olhar a juventude de um outro lugar, sem saber exatamente onde está situada a linha muito tênue da maturidade.

O desfecho da história é brilhante. Eu que gosto de começos, fiquei fascinado pelo final do livro que entre tantas surpresas, nos convoca a olhar para nossos interiores em parágrafos impecáveis como este aqui;

"A história favorece os amores trágicos, os Gatsby e Anna K., os perdoa, ainda que acabe com eles. Mas Peter, uma figura pequena numa esquina indistinta de Manhattan, terá de perdoar a si mesmo, terá de acabar consigo mesmo porque parece que ninguém fará isso por ele. Não há estrelas folheadas a ouro sobre lápis lazuli acima de sua cabeça, apenas o cinza de uma tarde loucamente fria de abril. Ninguém vai esculpi-lo em bronze. Ele, como todas as multidões que não são lembradas, está esperando polidamente pelo trem que com toda a probabilidade nunca virá."

Sem mais, feliz por ter fugido das tarefas de todo dia, fechei o livro com aquela vontade de continuar nele!

Foto: Wolney Fernandes

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cúmplice


No meio da fila para comprar o ingresso, desisti do cinema. Sem explicações para aquela súbita desistência sentei na praça de alimentação e vi um amor morrer. Ele, desolado, buscava o toque das mãos dela. Ela chorava silenciosamente. Rosto imóvel, lágrimas rolando sem parar.

Entre os dois, uma história inteira definhava frente ao silêncio que o choro fazia escorrer. Ao redor dos dois, riso e movimentação escondiam aquele amor agonizante. Nos minutos finais ele olhou no relógio e ela pegou a mochila. Partiram cada um para um lado.

Estranhamente, a vida continuou em seu movimento normal. Nenhuma música de fundo, nem mesmo um olhar de hesitação sobre o ombro. Ninguém fez nada diante da morte daquele amor. Nem eu.

Cúmplice, retirei-me da cena do crime com o coração na garganta.

Imagem capturada aqui.

domingo, 14 de outubro de 2012

Pequenas empresas, grandes negócios


No meio da praça, a vendedora de sombrinhas fotografa suas clientes para mostrar o quanto ficam mais bonitas usando o assessório.

Na esquina, parado ao lado do carrinho de flores, o vendedor de orquídeas aguarda a próxima venda com a máquina de cartão de crédito em punho.

Foto: Wolney Fernandes

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Maratona Dominical


Depois de anos, fui à missa de domingo naquela que já foi minha comunidade paroquial. Maratona! Minha alma de filho pródigo ficou logo no estacionamento da igreja quando a família do carro da frente saltou do veículo e o motorista resolveu dar uma ré sem olhar no retrovisor. Minha mão na buzina só serviu para me deixar surdo porque o moço ao volante nem percebeu quando seu carro bateu no meu.

Suspirei primeiro antes de abrir a porta do carro e já saí recitando o ato de contrição antes do pecado ser cometido. Entoei o hino de louvor quando verifiquei que não houve arranhões no para-choque enquanto a família feliz seguiu unida até a porta do templo sem se importar com o ocorrido.

Na entrada, um grupo de pessoas distribuíam boas vindas. A minha só foi dada depois de um convite para ajudar na catequese. Nestas horas, sempre me valho da triste condição de doutorando na justificativa pela não adesão ao chamado. Uma imagem insólita passou pela minha cabeça quando me imaginei frente a uma turma de catequizandos profanando todos os preceitos católicos e alargando a dúvida sobre o seguimento à Igreja. Sorte a deles por eu não estar disponível para a missão.

Antes mesmo de me sentar para aguardar o início da celebração, fui abordado por outra líder comunitária que, na aparente preocupação em saber notícias da minha família, me passou um santinho do seu candidato preferido e se certificou que a receita de macarrão, impressa no verso da foto, me faria um eleitor fiel. Mal sabe ela que eu nem sei cozinhar.

Suspirei aliviado quando os acordes do canto de entrada ecoaram pela igreja, mas meu alívio exauriu-se na homilia. Quando o padre sugeriu que o meu corpo poderia me levar para o inferno, eu aproveitei a deixa e convenci "o meu próprio corpo" a me levar para casa.

Ufa! Escapei por pouco.

Foto: Wolney Fernandes

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Prece para outubro


Por um outubro de miudezas, de movimentos que me arranquem sorrisos, de molecagens infinitas.