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terça-feira, 26 de maio de 2009

A menina dos meus olhos

"A menina
Dos meus olhos,
Só a vejo
Diante do espelho.

E por mais que lhe
Fale, tímida,
Não responde.
E se lhe pisco o olho,
Encabulada,
Ela se esconde."

J.J. Leandro

Imagem: Wolney Fernandes

Quatro Retratos

Retratos traçados em preto.

Janelas

Como vejo o mundo da minha janela?



Narrativa Visual produzida para a disciplina "Arte, Percepção e Aprendizagem" do curso de Licenciatura em Artes Visuais - modalidade à distância da UFG.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Garotinho Levado

Quando traços simples me deixam com vontade de rir.
Decididamente, não há personagem mais divertido que o Calvin.

domingo, 24 de maio de 2009

Desafio 03

Desafiante da semana: Adriano Antunes

Tema:
"Olho para o peixe
(que apesar de morto permanece digno)
e não sinto pena porque sinto fome."
Prosa do Mar - Marlon de Almeida

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De Wolney Fernandes: Beijo

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De Adriano Antunes: Cruza de M[S]orte

O [Olho] do peixe
Que [o] anzol atiça
É [peixe] fisgado
[Que] tenta fugir.

[Apesar] da bravura
Pobre diabo
[De] certo só que [morto] está.

[Permanece] fresco
[Digno] defunto
[E] choro [não] há, [sinto] informar.

[Pena] de morte
Grita o estômago
[Porque] sina é, [sinto] dizer
A [fome] matar.

Cinco Discos

Entre achados, sugestões e trocas consegui vários discos incríveis:








Three Flights from Aldo Nido
Greg Laswell
Faixa predileta: Comes and Goes









Riot on an Empty Street
Kings of Convenience
Faixa que adoro: Misread









Girls and Boys
Ingrid Michaelson
Faixa predileta: Far Away









Illinoise
Sufjan Stevens
Faixa preferida: Chicago

sábado, 23 de maio de 2009

Tudo errado!

Está tudo errado!
- Durmo às 21h sem conseguir ver o final do episódio da série que tem apenas 42 minutos de duração;
- Acordo às 2h da madrugada sem conseguir dormir dali em diante;
- Faço da cadeira do meu quarto, um armário de bagunças;
- Estou lendo 5 livros ao mesmo tempo sem conseguir terminar nenhum;
- Falo ao telefone sem conseguir conter as lágrimas;
- A pulseira do meu relógio tá girando no meu braço;
- Meus lábios queimam e eu nunca lembro de passar protetor;
- Digo que já fiz o projeto sendo que ainda nem comecei;
- Meu carro está sujo e cheio de cartazes, livros e CDs espalhados pelos bancos de trás;
- Não há um tênis limpo para calçar no sábado pela manhã;
- A conta no banco continua zerada e continuo com aquela vontade de gastar o pouco que me resta com suplérfluos;
- Chego sempre atrasado;
- Não atendo o celular com medo do que vou escutar; 
- Gasto muito tempo entre orkut e msn;
- Não consigo me decidir sobre qual foto deve permanecer no meu perfil; 
- Como sem parar;
- Já acordo cansado no sábado por ficar imaginando quanta coisa há para terminar no final de semana;
- Digo que está "tudo bem!" quando na realidade não está!
- Olho para amanhã e só vejo ontem.

Foto: Wolney Fernandes

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Números da razão

De repente a tela do celular se acende e vibra silenciosamente.
Um pequeno envelope amarelo na tela parece conter toda a saudade contida em dias de silêncio.

Nada para mim. Nada de mim!

O coração silencia enquanto meus dedos discam números  da razão.
Os lábios pronunciam sons para camuflar o caminho sinuoso feito pela lágrima que teima em escorregar pelas minhas marcas.

- Oi, tudo bom?
- TUDO! (...)

Leituras de qualquer tempo

O vento frio faz entrar pela janela as vontades todas de permanecer calado. Sigo ensimesmado em minhas leituras de qualquer tempo.

Foto: Wolney Fernandes

Exercícios de ser criança

"No aeroporto o menino perguntou:
- E se o avião tropicar num passarinho?
O pai ficou torto e não respondeu.
O menino perguntou de novo:
- E se o avião tropicar num passarinho triste?
A mãe teve ternuras e pensou:
Será que os absurdos não são as maiores virtudes da poesia?
Será que os despropósitos não são mais
carregados de poesia do que o bom senso?
Ao sair do sufoco o pai refletiu:
Com certeza, a liberdade e a poesia a gente aprende com as crianças.
E ficou sendo."

Manoel de Barros

Texto e imagem retirados do livro "Exercícios de ser criança" do Manoel de Barros que eu ganhei de presente nesta semana. As ilustrações são bordados de Antônia Zulma Diniz, Ângela, Marilu, Martha e Sávia Dumont feitos sobre os desenhos de Demóstenes. Um deslumbre de delicadezas.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Bronzeado de Madrugadas

Querida Sofia!

Tempo demais se passou desde nossa última carta. O silêncio se interpôs sem explicações rasas nesse período de ausências. Mas agora, de novo, o som do teclado tenta me levar até você. Ainda está aí?

Acabei de chegar da rua. O sol incide e estou bronzeado de madrugadas. E é isso. Numa madrugada repleta de esforços por sentidos, conexões sedentas por desfechos, saídas, conclusões... o dia amanhece e meu corpo trás um suspiro. Preciso seguir minhas mãos, para não me perder no corredor do prédio e nessa vida tão circular.

Na verdade, eu estou escrevendo isso para mim mesmo, porque vai ser muito díficil dormir sem algum tipo de palavreamento para tirar do meu corpo essa ardência inquietante. Escrever talvez me ajude a caminhar para um lugar onde não conseguirei chegar com a razão. Entre uma frase e outra a consciência começa a questionar-me coisas estúpidas. O que bebi? O que ingeri? Eu não gostaria de responder, mas a consciência também procede de maneira semi-autônoma, como se o questionamento ecoasse incomodando até eu me dispor a responder: Sim, confesso que há um pouco de álcool nessa escrita.

É bom manter minha cabeça ocupada de entender esse frenesi de mim. E a vontade agora é gozar várias vezes vendo pornografias espalhadas pelo quarto. Tudo é devaneio, é ilusão, um estado alterado de consciência, uma coisa qualquer. A consciência não é vilã de nada. Ela está aqui, meio boba, sem entender muita coisa. No entanto, é ela que tira de mim a vontade de apagar as lembranças. Mesmo as dolorosas.

Já sentiu vontade de poder complementar as lembranças, Sofia? Eu sim. Vivo querendo continuar pequenos trechos, escrever comentários, fazer desenhos ilustrando ou colorir algumas de minhas memórias, ou mesmo acrescentar notas de rodapé. Talvez com estes recursos eu consiga rasurar minha solidão. Me acostumei desde sempre a não ser sozinho, estando sozinho. Mas o costume não ameniza as coisas.

Vou me deitar!
Meus olhos cansados e embriagados não conseguem focar um final mais esfuziante para esta carta tão difusa... por vezes confusa. É melhor dormir sem lembranças. É melhor saborear o giro que o quarto dá e deixar meu corpo se elevar em prazeres fugidios.

Não me acorde antes do meio-dia!

Wolney

Cena do Filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". Imagem capturada em http://ratosehomens.blogspot.com/2008/08/brilho-eterno-de-uma-mente-sem-lembrana.html

domingo, 17 de maio de 2009

Desafio 02

Desafiante da semana: Wolney Fernandes

Tema:
"Eu não pinto um retrato para se parecer com a pessoa, mas sim para fazer a pessoa progredir e se parecer com seu retrato."
(Salvador Dali)
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De Wolney Fernandes: Auto-retrato

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De Adriano Antunes: O retrato

O taxi parou no portão da fazenda. Ricardo preferiu seguir o caminho a pé. Eram menos de 500 metros de subida até avistar a casa, mas devido ao tempo que tinha se ausentado, seria como atravessar o oceano atlântico, em uma canoa. Pegou a carteira, deparou-se com um retrato amarelado, 3X4, preso em uma janela de plástico transparente, desviou o olhar, tirou duas notas, enfiou a carteira no bolso da calça, pagou o motorista e desceu.

O terno negro que usava foi comprado, na véspera, em uma requintada loja da capital e agora desfilaria nervoso por uma estradinha de barro e mato. Mirou o portão, olhou para o sapato de pelica que pisava pela primeira vez em terra úmida, respirou fundo e seguiu.

O caminho levava ao passado. Cada detalhe estava impregnado de lembranças. As árvores, as pedras, o banco de tronco. No cume da casa, o galo de metal que mostrava os pontos cardeais. O balanço de pneu no velho carvalho. De tudo, naqueles dias em que brincar era sua única preocupação, o velho carvalho e seu balanço eram cúmplices das mais variadas artimanhas. Ricardo parou em frente ao velho carvalho. Admirou a grande árvore como quem respeitosamente contempla um altar, sagrado. Com os olhos, analisou cada detalhe, das raízes à copa, lentamente, como se lesse nas curvas das raízes, nas rugas do tronco e nas formas dos galhos, todos os anos que passou longe e o esforço que havia feito para esquecê-los.

Uma mão delicada pousou em seu ombro e ele, fraco demais para ter qualquer reação, fingiu não perceber. Carina abraçou seu corpo, deu um beijo no seu rosto e apontou a entrada da casa. Ricardo não conseguiu olhar a irmã. Seguiu calado até a varanda. Os pássaros, fartos naquela região, naquele dia, aguardavam mudos em seus galhos, em seus ninhos, como uma homenagem.

Ricardo travou na porta. Pessoas, em roupas de igual cor, aguardavam ansiosas. Quando, finalmente deu um passo para o interior da sala, sentiu no ar o ruminar baixo de todo tipo de adjetivos que se dá a um filho que abandona a família e vai correr mundo a procura de fama e fortuna e que ao conseguir, apaga as pegadas que deixou para não lembrar o caminho de volta.

Sim, ele era um desses.

Os ruminantes, como se não tivessem falhas e fossem donos de toda a verdade, distribuídos em pequenos grupos ao longo da ampla sala, mascavam seu veneno. Vez por outra, olhavam-se e balançavam a cabeça em sinal de reprovação.

Carina ofereceu uma cadeira ao lado da porta. Ricardo despencou. Os braços desmaiados sobre as coxas e o queixo afundado no peito. Permaneceu assim e ninguém além dela ousou se aproximar.

(...)

Então partiram, todos.

(...)

Já era tarde quando Ricardo e Carina retornaram a casa da fazenda. O chão continuava úmido, das arvores caíam algumas gotas de chuva e as nuvens percorriam rapidamente o céu, empurradas pelo vento.

No caminho, Carina resolveu falar – “Dado, o que está acontecendo contigo meu irmão?”- caminhavam apoiados um no outro – “Soube que tu vais te separar de Silvia.” – ele parou, olhou para Carina, nos olhos, pela primeira vez – “Faz tanto tempo que não ouço alguém me chamar de Dado. (...) Era assim que ele me chamava.” – voltou a andar, mas Carina não desistiu – “Silvia me ligou antes de tu chegares. Estava preocupada. Falou da separação.”- aguardou resposta, mas Ricardo desviou – “Vamos parar ali no velho carvalho. Tenho saudades dele.” – ela apertou o braço de Ricardo para chamar atenção – “Tu tens uma família que depende de ti. Que te ama. Pense melhor. Silvia me disse que a pegaste de surpresa. Que nunca brigaram. Que nunca tiveram motivos para uma separação e que do nada você apareceu com essa.” – Ricardo em silêncio admirava o velho carvalho – “Tu não a amas mais? ”- perguntou taxativa. Ricardo virou-se, continuou a andar em direção a varanda – “Eu não sei. Andei tanto que acabei me perdendo. Acho que me perdi de mim. Não sei quem sou. Não sei do que gosto; não sei o que fazer. Estou tentando protegê-los, só isso.” – Carina sorriu pasma – “Proteger? Proteger do quê? De quem?” – e ele, triste, sentenciou – “De mim. Desse vazio que carrego."

Ricardo não entrou na casa. Preferiu ficar na cadeira da varanda. Olhando o arrastar das nuvens. Avistou a estradinha que com suas curvas cortava a plantação e sumia no pé da montanha. Ficou assim por longo tempo. Carina, que havia entrado, retornou com uma maleta nas mãos. Uma pequena maleta, de madeira e couro, em perfeito estado de conservação, mas que ao primeiro olhar denunciava a idade que tinha. “Pegue, é para você.” – disse entregando o presente –“Ele me fez prometer que iria te achar e te entregar.” - Ricardo pegou constrangido – “Não tenho o direito (...)”- ela interrompeu – “Ele tem.” – virou as costas e entrou.

Ricardo sentiu um aperto no peito. Sentado, com a maleta nas pernas, ficou admirando cada marca, cada mancha no couro escuro. Como se acaricia algo que se ama, passou a mão delicadamente por cima da maleta e pelos lados, até a tranca. Abriu.

Em maços de pouco mais de dois dedos, amarrados com barbante, parte de sua vida estava arquivada na forma de antigos retratos cronologicamente ordenados. Ricardo não conteve as lágrimas. Abriu o primeiro maço. Fotografias da mãe, grávida, nas mais variadas situações. Passou o dedo pela barriga daquela distinta senhora. Tocou a si mesmo. Abriu o segundo maço. Retratos do nascimento até o primeiro ano. Um menino loirinho, com ar sapeca, decidido, soprava com alegria a velinha do bolo. O coração de Ricardo encolheu mais um pouco.

Cada maço representava um período importante, variando entre um ano e no máximo dois. Foi abrindo um a um, na ordem. O menino do bolo agora andava de bicicleta e sorria. Como sorria. Orgulhoso, andava em pernas de pau, atirava de bodoque e soltava pipa. Para a escola, vestia calção marinho, camisa branca e usava chinelos. Corria arrastando a enorme pasta.

No sétimo maço, a ausência da mãe. Ela desapareceu das imagens deixando o grupo com um punhado de tristeza no fundo dos olhos. Um soluço ficou preso na garganta.
As feições de menino, no oitavo maço, deixaram o corpo dando espaço a um rapaz com olhar destemido. Um guerreiro que aspirava grandes conquistas. As imagens de fundo ficavam cada vez mais distantes e não combinavam com os ideais do belo jovem.

Então, no nono maço, um cartão de despedida, um recibo de pagamento, e um retrato. Ricardo fechou os olhos. As imagens voltaram à mente. Tanto tempo. Olhou para o retrato que mostrava o jovem aventureiro, munido de uma mala e muitos sonhos, acenando feliz, sem promessa de retorno. Atrás, o grande carvalho parecia chorar e o balanço estático, congelado no tempo, adormecia vazio.

Depois desse dia, Ricardo retornou apenas duas vezes a fazenda. Nas férias do primeiro ano da faculdade, e a segunda, um ano depois, quando Carina perdeu o bebê e quase morreu. Depois disso, só um amontoado de desculpas.

Já escurecia quando Carina abriu a porta para informar que a comida estava na mesa. Percebeu que a cadeira na varanda estava vazia. Tentou achá-lo por toda a extensão do pátio, mas não o encontrou. No fundo, teve a certeza de que não adiantaria chamar. Ele havia partido, como antes.

(...)

O menino correu até os pés do grande carvalho. O céu pintado de um azul vivo escondeu as nuvens atrás das montanhas. Os pássaros faziam algazarra nos galhos. O menino ainda sem jeito olhava para o pai e para o balanço, temendo o desconhecido. Ricardo incentivava – “Vamos meu filho, ele não vai te morder.” – e após dar um beijo carinhoso em Silvia, pegou a máquina fotográfica de suas mãos e empolgado continuou – “Vamos Pedro, faça uma pose para o papai.” Carina observava tudo, da varanda.

Na máquina, um menino, um balanço e um velho carvalho.

No bolso, dentro da carteira, um retrato amarelado, 3X4, que por um instante parecia sorrir.

(.)

Dos azulejos

Dos azulejos de Goianésia, relevos, arabescos, envelhecimentos e frestas...

Foto: Wolney Fernandes

Pele

A pele é a memória do corpo. Pura solidão essa grafia sinuosa dos poros.

Imagem: Wolney Fernandes

Conclusões da Terra do Sempre

Se vivo na Terra do Nunca, não cresço.
Se não cresço, não aprendo.
Se não aprendo, sofro.
Se sofro, endureço.
Se endureço, deixo de ser eu.

Cena do filme "Em busca da Terra do Nunca". Imagem capturada em http://www.johnnyd.blogger.com.br/poster5.jpg

sábado, 16 de maio de 2009

Desejo de ano novo!

Quando junho chegar... 
monocromias brotarão da terra árida do meu peito para tocar o céu de bandeirolas coloridas;

Quando junho chegar... 
pequenos sopros farão pulsar as medidas do meus passos;

Quando junho chegar... 
serei capaz de me mover, de derrubar algo ao passar e começar a ser tátil e visível;

Quando junho chegar... 
a minha expectativa se tornará a minha memória.

Quando junho chegar... 
será janeiro pra mim.

Foto de Adenor Gondin Imagem capturada em http://apenasbahia.blogger.com.br/2003_06_01_archive.html

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Circularidades dilacerantes

Quando um colar é sinal das circularidades dilacerantes que compõem o movimento que a vida faz.

Imagem: Wolney Fernandes

Tudo está como deve ser

Enquanto alguns não sabem onde a busca pelo amor pode levá-los, eu reconheço com facilidade o lugar comum onde essa mesma busca parece me fazer habitar. Ao pisar na realidade meus pés ainda fantasiam campos de dança, mas finjo não mais plantar expectativas por caminhos onde passar. Talvez, no futuro, quando as forças retornarem ou quando um impulso qualquer me levar desse ponto onde estou... talvez, assim, eu consiga mudar minhas fantasias.

É bom aprender que mudanças não se instalam pelos movimentos dos furacões, mas chegam como pequenas brisas que agitam cortinas ao amanhecer. Se é nesse lugar comum que devo habitar então é bom fazer dele o meu lar. Cuidar e não mais 'expectar' ou criar roteiros de cinema para me tirarem daqui. Doçuras antes do amanhecer não significam permanências antes do anoitecer. Simples assim, como aroma discreto das flores escondidas em campos de vasta vegetação.

Foto: Wolney Fernandes

Desenhos de mil e uma histórias

Ganhei um livro de desenhos da Gerda Brentani de presente. Bichos dividem as páginas com retratos num ajuntamento que é uma boniteza só!

Foto: Wolney Fernandes

domingo, 10 de maio de 2009

Desafio 01

Desafiante da semana: Adriano Antunes

Tema:
“O Caos é uma ordem por decifrar. Há um caos e também as imagens que lá estão dentro, pegadas umas às outras de maneira a contarem uma história, isto é, uma ordem, e os caos sucessivos que elas formariam se as dispensássemos antes de tornar a pegá-las para organizar histórias diferentes, e as sucessivas ordens que assim iríamos obtendo, sempre deixando atrás um caos ordenado, sempre avançando para dentro de um caos por ordenar."
(José Saramago – O Homem Duplicado)
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De Wolney Fernandes: Caos Espiral

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De Adriano Antunes: Perspectiva Espiral

O beijo iniciou no olho, percorreu a pele, encontrou a boca e adormeceu satisfeito ao lado, no ombro.
Há muito, imaginou-se adormecia em absinto abraço.
Na cama alva, o suor banhou curvas entrelaçadas em duelo vencido.
O grande cadeado que fechava a caixa de aço onde escondia seus medos, seus desejos e suas fantasias, foi aberto e esquecido em cima do criado mudo.
Não precisou falar.
Tocou com a ponta da língua a própria felicidade.
(...)
Ele, imóvel, uma árvore no meio da sala.
No ar a asfixia do silêncio.
Sádico, administrou dose letal de ácido, corrosão por tempo determinado.
Deliciava-se, discreto, não saber amar.
Ela agonizava baixinho, sangria de rejeição.
Nada mais, de ontem para hoje, nada mais.
(...)
O olhar esmaecido, composto de dor e ausência, permaneceu fixado na parede de impuro branco.
Lágrimas secas percorreram o rosto.
A saliva interrompeu seu fluxo expondo um leito raso, quebradiço.
O papel de parede floral que antes cobria a pele com perfeição, agora velho e desbotado, escama a fugir do corpo.
(...)
Ajoelhada em cacos de um mosaico a ser construído.
Imersa na perspectiva espiral de pensamentos reincidentes.
Arquivos infinitos de coisas inúteis.
Respira o caos, despida de si.
(.)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

a(i)nda desenho

Na saída da exposição "a(i)nda desenho" minha vontade era pegar lápis 6B e carvão para sair riscando o mundo, os muros, as portas e os terreiros todos.

"a(i)nda desenho é o escorregar do lápis a fazer-se linha, é o ruído do apagar com borracha; é a mão 'boba' tremulando em palavras tortas e em traços sinuosos num sem rumo aparente. São tentativas de inventar gagueiras na língua e criar deslocamentos no desenho."*

Exposição: a(i)nda desenho
Artista: Glayson Arcanjo
Data: de 28 de abril a 22 de maio
Local: Galeria da FAV - UFG
Campus Samambaia

(*) Trecho retirado do folder da exposição
Foto: Kárita Gonzaga 

Do começo ao fim

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Asas do Desejo

Eu queria...

Ter que viajar para trabalhar.
Não ter que trabalhar nos finais de semana.
Fazer uma viagem ao México.
Gostar de dormir cedo.
Ter ombros mais largos.
Que o mês de junho chegasse logo.
O DVD "Ensaio sobre a cegueira".
Curar minha gengiva definitivamente.
Gostar de fazer ginástica.
Viajar mais.
Ser mais articulado na fala.
Fazer um curso de yoga.
Não estar tão mal dos bolsos.
Ter mais vontade de fazer as coisas.
Conseguir guardar dinheiro de novo.
Ter vontade de acreditar como antes.
Bolinho de milho.
Ter começado mais novo.
Não ficar triste com tudo isso.

Imagem do filme "Asas do Desejo" (Himmel über Berlin, Der, Alemanha/França, 1987)

6.470.818.671

Neste momento, há 6 bilhões, 470 milhões, 818 mil e 671 pessoas no mundo.
Algumas estão fugindo com medo;
Algumas estão indo para casa.;
Algumas mentem para conseguir superar o dia;
Outras estão encarando a verdade agora;
Seis bilhões de pessoas no mundo, seis bilhões de almas.
E algumas vezes, você só precisa de uma para preencher seu coração.

Texto de Mark Schwahn
Imagem: Wolney Fernandes

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Instantes de encantamento

Os instantes de encantamento, mesmo fugidios, ainda não deixaram meu corpo. Talvez por isso, os sonhos ainda não tenham chegado em beco sem saída.
Que bom é poder ainda me emocionar com o pequeno beija-flor que, num vôo intrépido, alcança a janela do décimo andar para fazer pulsar um coração miudinho;
Que bom é poder ainda sentir o arrepio que dá quando me toma o gosto apurado dos afetos que, junto comigo, defenderam as histórias de anjos e de serpentes numa tarde de quinta;
Que bom é poder ainda caminhar com vagar e silêncio me perdendo nas melodias e rimas das canções que trago sempre no bolso;
Que bom é poder ainda traçar em folha branca a curiosidade infante do menino que olha ao seu redor para riscar o mundo que habita;
Que bom é poder ainda arrumar o cabelo de azeviche em frente ao espelho e no gesto que a mão desenha lembrar de um tanto de sol contido em olhos de tamarindo;
Que bom é poder ainda sentir saudades!

Imagem capturada em http://cafecomamigos.com.br/category/poesia/

Sozinho

Minha solidão esboçada em traços trípticos.

Imagem: Wolney Fernandes

Músicas de presente

01 - Down On My Knees - Ayo
02 - New Soul - Yael Naim
03 - Con toda Palabra - Lhasa de Sela
04 - Misread - Kings of Convenience
05 - Again & Again - The Bird and The Bee
06 - Chicago - Sufjan Stevens

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/icm/

terça-feira, 5 de maio de 2009

Flores e Narcisos

Entre imagens de narcisos brotou uma flor da saia com cor.

Imagem: Wolney Fernandes

Imagens em Deslocamento

Cartaz para o 2º Colóquio Nacional Visualidade e Educação.

Cogitação

Não suporto o limitar-se
e o esconder-me em rumores de praxe,
em tantos de mim;
sou eu, dividido em muitos outros;
sou eu, cogitado a ser o mesmo.

Texto: Cristiano Casado - Casa do Cristiano
Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 2 de maio de 2009

Emendar pontas soltas

Dois de maio de 2009. Os dois nós da pulseira que coloco no pulso selam esse gesto sacramental que me faz olhar adiante. Paradoxalmente o que eu preciso agora é voltar ao estado da paixão. Emendar as pontas soltas em nós que firmem todos os aspectos que compõem minha vida e me apaixonar. Reinventar uma maneira de seguir em frente desafiado, sem temor, apenas com a vontade de chegar ao outro lado.

Tenho necessidade de tirar os pés do chão vez em quando. Olhar de frente para o que não conheço e cumprimentar – muito prazer! Mas esqueço dos tropeços da Alice e saio correndo a cada passo largo do coelho. Eu até quero a vertigem. Mas ainda sonho com uma vida mais calma, sem tantas máscaras diárias e sofrimentos desnecessários. Não suporto mais acordar com raiva de mim.

Já não gosto mais de ficar esperando o próximo trem. Nem posso me dar ao luxo de mergulhar em poços sem luz. Preciso voltar a ter foco. A acreditar em mim, sem necessariamente ancorar meus navios em portos alheios. Estou farto das minhas fraquezas. Farto das minhas muitas palavras e minhas poucas ações!

Foto: Wolney Fernandes

Três histórias

As obras de arte dos três vídeos são as mesmas. A tarefa era contar histórias à partir das imagens, numa perspectiva alinhada à interpretação subjetiva defendida pela cultura visual. Vejam como cada grupo de crianças narrou as imagens.







Atividade realizada como parte integrante da Oficina de Artes Visuais do Projeto Arte Educação - Fundação Jaime Câmara - Goiânia-GO, sob a responsabilidade da Professora Kelly Bianca Clifford Valença (minha colega de mestrado!).

Invictus

Conjurar para assimilar:

"Dentro da noite que me cobre. Negra como as profundezas, de um pólo a outro, agradeço aos deuses, se é que existem, pela minha alma indômita. Nas garras ferozes das circunstâncias não me encolhi nem fiz alarde do meu pranto. Golpeada pelo acaso, minha cabeça sangra, mas não se curva. Longe desse lugar de ira e lágrimas só assoma o horror da sombra. Ainda assim, a ameaça dos anos me encontrará sempre destemido.
Não importa quão estreita seja a porta, quão profusa em punições seja a lista.
Sou o mestre do meu destino.
Sou o capitão da minha alma."

Texto de William Henley
Imagem: Wolney Fernandes

sexta-feira, 1 de maio de 2009