Onde estão seus pés doídos de cansaço? Não se sabe nem onde foi parar aquele brilho no olhar que tanto a acompanhou... Suas pernas, já cansadas, alcançam a calçada e dão passos ao lado de outros passos e pés magistrais.
Ela parece perdida. Pára no meio-fio esperando o sinal abrir e olha para baixo como se olhasse para si própria, para o que não mais existe. Cabelo em desalinho preso por uma presilha velha... o vestido de cetim amarrotado traz um mancha na altura do seio esquerdo. Da janela direita do carro meu olhar a alcança.
Ela se ajeita na sandália barata de salto e tiras finas para assistir à sua própria vida passando diante dos olhos que teimam em olhar o vazio. Por instantes ela não vê que o sinal abriu. Passo a observá-la e sou invadido por sua tristeza. O devaneio que tira o brilho dos seus olhos acaba... ela volta a estar só naquela esquina. Está só e quando tenta atravessar, percebe que o sinal vermelho volta a piscar. Acelero o carro e, ao olhar pelo retrovisor vejo a força lhe escapar de sua postura, segundo a segundo... Nada mais existe pois ela nada pode sentir ali parada. Não há mais vida, mas morta ela não está...
12 de Junho de 2008
Imagem: Wolney Fernandes
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