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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pé de Flamboyant

Ali era uma ladeira. Mais pra frente, uma casa. Para trás ficava a escola. Do outro lado morava a Maria do Bugi. Por aqui passava uma rua larga. No meio da rua, mas bem no meio mesmo, tinha um pé de flamboyant bem grande que jogava sua sombra pra dentro da casa.

Eu me empoleirava no tronco negro e robusto cheio de nós. Era de lá que a vista alcançava as águas esmeraldas do Rio do Peixe. De lá de cima os olhos perseguiam cada pedaço da paisagem. Era bonito ver o sol salpicado no chão de tijolos quadrados da sala de casa. Era dali que as trilhas nos morros pareciam barbante jogado ao acaso.

No espaço entre um galho e outro meus pés se misturavam ao monte de folhinhas caídas ali desde a última seca. O vento balançava as flores que explodiam em nuances laranja, tecendo um movimento que me enchia de coragem. O princípio do movimento valia para a intensidade do sol e para o aumento do batimento cardíaco que sentia na garganta e não no peito de menino.

A vontade de voar eu recebia do mundo, mas o mundo não sabia da minha intenção. O guarda- chuva quebrado era minha asa. Naquele momento que antecedia o vôo eu ganhava a imortalidade e perdia o medo que tinha do vento me levar direto para as raízes retorcidas do flamboyant. De olhos fechados me lançava... e por instantes voava... mesmo com um tempo limitado, que embora constante e inegável, era irresistível.

Imagem: Wolney Fernandes

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