Foi uma surpresa quando percebi que o motorista de táxi que tinha me trazido para a pousada na chegada era o mesmo que iria me levar ao aeroporto na partida. Do alto dos seus cinqüenta e poucos anos, tagarela como ele só, reclamou da chuva durante o trajeto: Já estamos em Novembro e não tem turista em Florianópolis. Tudo culpa dessa chuva que não pára. Desse jeito o verão não chega. Um absurdo!
Resmungando assim, ele me levou até a Pousada Edelweiss. O local parecia saído de um livro de contos de fadas europeu. De cara, lembrei-me da canção da Noviça Rebelde que tinha o mesmo nome. Fiquei curioso pra saber o que significava. Perguntei pra moça que me atendeu e ela revelou que era uma flor típica da Suíça, lar dos seus avós. A pousada ficava no final de uma ladeira tão íngreme que cheguei a gelar com a sensação de que o táxi não chegaria a alcançar o cume.
Três dias depois e a chuva não tinha parado, mas o humor do taxista era outro. Cumprimentou-me com um largo sorriso como se já fossemos velhos conhecidos. Todo solícito perguntou se tinha gostado da cidade. Na realidade não tive muito tempo pra aproveitar tudo o que a cidade me oferecia, mas respondi que sim sem revelar detalhes. Arrisquei dizer que voltaria com mais tempo no período de alta temporada e ele ficou todo satisfeito. Estiquei a conversa e perguntei há quanto tempo ele morava na cidade.- Moro aqui desde que nasci e amanhã faço 40 anos de casado.Cumprimentei pela data e fiz os comentários de praxe: “Casamento duradouro assim é raro hoje em dia”. Pra minha surpresa ele tirou os olhos da estrada e, enquanto passava a marcha, proferiu com veemência:- E eu tenho a receita!Sem entender muito bem, indaguei: Receita?- Sim, receita para um casamento durar. Veja só como é fácil: Primeiro você precisa encontrar a pessoa que está predestinada para você!Sorri, disfarçando o pensamento irônico que me passou pela cabeça: Como saber quem está predestinado pra mim? Será que acende uma luzinha pra sinalizar a pessoa eleita?- Pra funcionar, a mulher tem que cuidar da parte financeira da casa. Temos conta conjunta e nestes quarenta anos é sempre ela quem faz os pagamentos. Nunca precisei assinar um cheque.
Antes que eu pudesse elaborar qualquer pensamento a respeito da segunda fala, ele continuou: - E depois, a pessoa certa tem que ser como minha esposa!Novo sorriso interno e nova pergunta: Como assim?- Minha esposa não coloca nada fora. Se sobra arroz da janta, ela faz bolinho pro dia seguinte. Se sobra carne ela faz picadinho. O café que me custaria cinco reais na rua, ela me faz tomar em casa para economizar.
Acenei com a cabeça e não consegui esconder o riso que aflorou no canto da boca. Olhei pra fora para amenizar a risada que teimava em vir à tona e avistei o aeroporto. Pelo visto, o taxista nada percebeu, pois continuou todo eufórico a narrar as peripécias da esposa para economizar o suado dinheiro que ele colocava em casa. A esta altura eu já nem ouvia mais o que ele dizia. Minha cabeça já estava imaginando como iria iniciar esse texto aqui no blog.
Imagem capturada em http://butecodoedu.blogspot.com/2006_05_01_archive.html
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