Eu vivo sempre guardando coisas que me são preciosas. E não são apenas cartas ou figurinhas, mas principalmente desejos e lembranças. Eu as guardo, mas elas nem sempre permanecem escondidas ou organizadas como eu imaginei, pois estão sempre vindo à tona para lembrar o que é necessário recordar. Talvez não as memórias e as pessoas, mas os sentidos e as relações provocadas por elas.
Memórias assim são coisas que não podem ser expurgadas porque são as chaves que possibilitam o recomeço, a ressignificação, a volta...
O único momento do meu dia em que tudo isso parece claro são as noites. Nelas, só restam as saudades de pessoas e fatos que já vivi. Nelas, vale a pena deixar rolar as lágrimas em cacho a engravidar meus risos. Nelas, me encontro com os lugares perdidos de manhã e nunca mais anoitecidos. Assim, os cheiros embalados nos braços persistentes da memória vão revelando desamores maiores que os amores que me atam.
Nestes instantes só vale a pena falar do que fui, andei e sofri. Só devo calar e guardar o que sonho.
Imagem: Wolney Fernandes
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