Vivo redescobrindo a cor dos meus olhos. Sim! Depois destes anos todos, me dou conta que já não são mais pretos e sim castanhos. Será que à medida que envelhecemos, a cor dos olhos vai clareando? Só pode ser assim porque fui olhar na minha certidão de nascimento e estava lá registrado com todas as letras: olhos pretos. De outra forma, eu já teria notado isso há mais tempo.
Esta descoberta, no entanto, me fez pensar nas nuances escondidas por trás desta cor e o que ela, aos poucos, vai re-velando a meu respeito. A cor castanha perpassa a opacidade do preto para se manter translúcida na luz. De outra forma, castanho é também fruto da mistura dos tons terrosos (marrons) com os tons solares (amarelos). É, então, ao mesmo tempo, cor que queima e cor que afaga. Castanho é cor de outono, de tempo seco feito mês de agosto que guarda no seio a seiva da primavera que está preste a explodir em setembro. A dualidade presente nesta cor me faz um cara sereno e ardente. E nessa ardência serena eu me refugio querendo de vez em quando me entregar.
Quero que a proporção do amarelo vá aumentando à medida que o tempo passe. E assim, de castanhos-escuros, com azedume ainda evidente, meus olhos se transformem em castanhos-mel, de doçura ardente e aparente.
Foto: Wolney Fernandes
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