Já faz muito tempo, mas lembro-me de acordar no meio da tarde de sábado com meu pai dizendo que eu e minha irmã iríamos tirar foto. Em casa nunca fomos de registrar momentos nossos e a situação financeira pouco favorável não nos permitia o luxo de ter uma máquina fotográfica. Por isso aquela tarde teve um sabor todo especial.
Minha irmã, quatro anos mais nova que eu, não entendeu muito bem a proposta, mas eu bem queria um retrato só meu pra mostrar orgulhoso o “projeto de cabelo grande” que meu pai insistentemente tentava convencer minha mãe pra deixar crescer.
Hoje me surpreendo em perceber como as lembranças daquela tarde afloram com tanta força à medida que vou construindo esse texto. A impressão é de que se eu fechar os olhos vou poder sentir as mãos macias de minha mãe arrumando pacientemente a gola da minha camiseta de festa ou o calor gostoso da mão de meu pai nos conduzindo pela calçada até o retratista.
Minha irmã, com seu vestido rosa cheio de babados e bordados, não gostou muito, fez cara de choro e tudo mais. Eu, apesar da cara séria (isso vem de longa data) estava curtindo. A curtição não era só pelo retrato em si, mas por toda a situação. Depois das fotos, já voltando pra casa, passamos no armazém do seu Graciano e ganhamos um sorvete de Maria-mole (daqueles com brinquedinho de plástico no topo). Em casa, minha mãe nos esperava com a janta pronta.
Lembro-me dela reclamar do cabelo da minha irmã em desalinho e em seguida, ao ver meu pai contar da ameaça do choro, se compadecer, pegando a caçula no colo. As fotos 3x4 só ficaram prontas na semana seguinte, mas já não me lembro de detalhes ocorridos após aquela tarde de sábado.
Ao olhá-las novamente, agora, em 2008, pensei em uma alegoria que vale a pena registrar: hoje somos três: minha mãe, minha irmã e eu. A ausência de meu pai re-significa sua presença no jeito como cada um de nós entende a vida.
Somos três, mas valemos por quatro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário