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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Habilidade em ressuscitar

Querida Sofia,

Sem perceber já chegamos em novembro. As lojas e a cidade já decoradas para receber o Natal, que a cada ano parece chegar mais cedo, e meu calendário do Pequeno Príncipe mostrando sua penúltima imagem. É, quando se está ocupado o tempo passa feito trem-bala. Tanto que pareço já estar às vésperas da Páscoa de 2009.

Ultimamente eu ando com uma bandeira branca no bolso, com a missão de fazer as pazes com meus caranguejos internos. Pelo mesmo motivo que decidi freqüentar as aulas chatas da academia para fazer as pazes com meu corpo: preservar o que ainda tenho e recuperar o que me falta, antes que eu morra por conta disso... Pois se morre de arrependimento e coração partido e de chateação também, como posso comprovar nas inúmeras mortes que tive e sigo tendo por aí. Quem diz que só se morre uma vez nunca leu aqueles versos de Elisa Lucinda que você me enviou há 5 anos atrás, lembra?

“A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar vivo todo dia.

Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas (...)"

A última semana foi atravessada por oscilações entre angústias e instantes de sossego. Conheço já aquela minha estranha mania de viver no futuro, me esquecendo que, para existir um amanhã, um hoje se faz presente. Para quem vê do lado de fora, minha vida parece calma, à meia-luz, com trilha sonora instrumental e um monte de possibilidades ao meu redor. Tudo calminho e teoricamente sem traumas, em resumo. Pode até ser, mas então por que é que a única parte do meu corpo que não exala preocupações, a esta altura, é o meu nariz? (e olha que hoje ele amanheceu com uma espinha enorme!). De resto, tudo está esticado ao limite!

Talvez seja a hora de colocar em prática aquela minha habilidade em ressuscitar. Há de se ver o lado bom das coisas - ou inventá-lo, se preciso. O que não é possível é ficar andando com a nuvem de preocupações na minha cabeça o tempo todo.

Hoje estou um chato! Desculpa pela carta-desabafo que também não diz muita coisa, mas é só o que tenho a dizer.

Abraços 'friorozos' (porque de calor, basta só o de Goiânia. Ufa!)
Wolney

Imagem: Wolney Fernandes

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