Querida Sofia,
Sempre te escrevo para registrar minhas imperfeições. Minha esperança é que você não se canse de escutá-las porque eu sigo falando delas, ora na tentativa de me cobrar, ora simplesmente tentando me vangloriar por ter a capacidade de constatá-las.
Eu tentei mudar quem eu sou uma série de vezes. Tentei me entregar menos às coisas, ser menos exigente comigo mesmo. Errei uma, duas, três, quatro, cem vezes... Continuo errando e, na esperança de obter certa compreensão do mundo, sempre me esforcei e me esforço. Maltrato-me! De cicatrizes internas meu corpo está cheio e meu ofício é escondê-las com tatuagens travestidas de sorrisos fáceis e compreensões superficiais.
Pensei que estava dando meus primeiros passos para a felicidade de agora e me vi novamente em profunda desorganização, inaptidão em lidar com as mudanças de planos. Por melhor que eu seja, por melhor que eu consiga, falta eu gostar desse meu lado inapto, pouco articulado.
E não, Sofia, não me venha com seus discursos para me convencer temporiamente do contrário. Por viver de extremos, encontro-me doente. Na mais pura das enfermidades diagnosticada pelo meu espelho e nomeada de frustração. A boa notícia é que, desta vez, eu já tenho também a cura. Ela provém de uma confiança que, em forma e conteúdo, me diz: sossega coração!
Longe está o tempo em que eu imaginava a linha do destino que atravessa minha mão como um desenho retilíneo. Afinal, a vida nunca esboça uma linha reta, mas ao contrário, vai riscando traçados sinuosos para que a gente não saiba mais onde pisar. Em tempos de quedas silenciosas só tenho pensado na beleza da recuperação.
Me ajuda a enxergá-la?
Beijos de sempre!
Wolney
Imagem: Wolney Fernandes
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