Querida Sofia,
Olho à minha volta e vejo meu quarto revirado. Montes de papéis, a mala no canto, roupas na cadeira, DVDs e livros espalhados. O guarda-roupa abarrotado de coisas que não uso mais. Dá um desconforto danado. Por que manter tanta coisa que não uso mais? Será uma ilusão de que posso perder meus instantes passados? Será que sem minhas bugigangas não vou conseguir reviver momentos de antes?
Pautado nessa ilusão vou acumulando ingressos de shows, bilhetes escritos há meses, catálogos com capas bonitas, calendários de anos anteriores e toda sorte de "sinais" daquilo que eu vi e vivi. A promessa de arrumação é adiada frente a demanda do dia-a-dia que não me dá tempo para ajeitar tudo com o capricho de sempre. Sim, porque cada item guardado pode expor um novo foco de bagunça.
Eu sei também que tinha prometido começar 2009 com tudo no lugar, mas para mim, o ano só termina em março quando eu me livrar da minha dissertação e concluir o mestrado que arrastou 2008 até aqui. É incrível como essa arrumação externa move, aqui dentro de mim, uma espécie de organização interna. Um algo intangível que inaugura nova fase na vida mental. Em meus devaneios, com tudo no lugar eu posso aumentar meu campo de visão e ir adiante, sem tropeços. Quando entro em meu quarto e assisto a essa desordenação fico mais intolerante a minha própria balbúrdia.
Desculpa te incomodar com essa carta sobre faxinas não cumpridas. Prometo um assunto melhor no futuro. Daqui, do meio da bagunça, sigo tentando encurtar distâncias e calculando se Goiânia é mais perto do Rio Grande do Sul do que de Minas Gerais.
Beijos de sempre! Bem desordenados.
Wolney
Imagem: Wolney Fernandes
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