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domingo, 4 de janeiro de 2009

Grudenta e Doce

18 de Dezembro de 2008.

Quando o ponteiro marcou 21h50 as luzes do estádio se apagaram e a imensa caixa que ocupava o centro do palco se dividiu em cinco telões móveis. O show marcado para as 20h começou com imagens de engrenagens de uma fábrica de doces que se misturavam nas telas, fazendo o público delirar.

O flash da câmera que eu tentava equilibrar em meio a multidão que me cercava não dava conta de captar a magnitude do momento. Sentada em seu trono, Madonna surgiu demarcando seu posto de Rainha Pop para agraciar seus súditos brasileiros com o show "Sticky & Sweet".

Confesso que era um súdito mais fiel quando, há 15 anos atrás, a cantora veio ao Brasil pela primeira vez. No auge dos meus 19 anos eu ostentava com orgulho os discos comprados com meu primeiro salário e até uma pasta com fotos, reportagens e outras bugigangas que traziam o nome da estrela estampado.

Em tempos de "Erótica", eu sequer sonhava poder vê-la, um dia, no palco. Da minha cidadezinha com pouco mais de 300 habitantes eu me contentava com a euforia atrasada que chegava pelo rádio e telejornais. Talvez por isso, neste dia 18, quinze anos depois, há menos de 20 metros de Madonna eu tenha me dado conta que na verdade ela nunca perdeu seu posto de rainha no meu Olimpo particular.

Madonna consegue se atualizar deixando para trás outras estrelas daquela época (Cindy Lauper, Michael Jackson... só pra citar alguns). Como um Picasso do mundo da música, ela decompõe seus sucessos de sempre e os apresenta de forma inédita, firmando-os numa espécie de bricolagem que tanto fascina nossos sentidos nos dias atuais.

As tintas com as quais ela pinta sua carreira mistura tons de disciplina, ousadia, consciência e diversão. Como na Bíblia, a leitura descontextualizada de sua obra pode virar discurso fundamentalista. É preciso olhar o entorno, o contexto, saber por que ela aparece de noiva cantando "Like a Virgin" na década de 80 e porque aparece, agora, crucificada com uma coroa de espinhos.

Ela consegue, com a mesma desenvoltura de antes, sair de uma roda tipicamente cigana para comandar uma rave porque transita e costura esses mundos, à princípio tão distintos, com o alinhavo do respeito às diferenças.

Ela também é completa porque, mesmo sem discursos (feministas, políticos e tantos outros), seus shows divertem e tiram a gente do chão. Faz com que esqueçamos, em breves minutos, as duas horas de atraso que fizeram as pernas doerem ou a fome e a sede aumentarem.

Quando as luzes do estádio se acendem, os pés ainda demoram a tocar o chão. A vontade é se embriagar ainda mais desse reinado "Grudento e Doce". Então passamos os dias com as imagens e os sons em nosso corpo, naquela repetição incessante, como o tic-tac de um relógio:
Get Stupid!
Don't Stop It!
Get Stupid!
Don't Stop It!
Get Stupid!
Don't Stop It!"



Foto: Odailso Berté

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