Era quase de manhã. Um sonho agitado me acordou na primeira luz matutina e, esperando meu coração voltar ao ritmo desacelerado de sempre, comecei a estranhar as ausências.
Difícil é viver sem presenças.
A experiência do vazio não se configura salvação quando nela se aprisionam deslizamentos sem esperança de preenchimentos posteriores. Vendo a luz tênue alcançar o anjo que guarda minha cabeceira recordei-me de Clarice em ÁguaViva:
"Ouve- me, ouve o silêncio.
O que te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa.
Capta essa coisa que me escapa..."
Escutar o que se cala e olhar o que se oculta tem dilacerado meus dias e minhas noites, mas não vou me entregar às ausências... nem posso! Prefiro criar historias e imagens em torno delas, e assim algo de um sentido se coloca.
E nas frestras destas invencionices constantes "capto essa coisa que me escapa..." e faço preenchimentos. Nesse exercício, algo de uma verdade se coloca para mim. Sei que ainda não são as presenças, mas uma espécie de pulsação que eu encontro nas permanências.
Sigo assim!
Imagem: Wolney Fernandes
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