Não teve muito tempo para pensar na partida até então. Caminhão carregado com a pouca mobília que a mãe custara a pagar. Era tarde de poeira e silêncio como tantas outras no vilarejo que o viu crescer. À sua frente só o horizonte da capital desconhecida para vasculhar e, atrás, a casa onde crescera, o rio dos peixes mágicos e a segurança que a sombra do pé de flamboyant projetava.
O medo já lhe fazia doer as vistas, mais do que o sol lá adiante. Cada farpa de arame que seus olhos encontrava pelas cercas da estrada, arranhava uma lembrança de antes. Não deveria ser tão difícil deixar a própria terra em busca do que sempre desejou - pensou enquanto construía desenhos com a poeira que o caminhão deixava para trás - mas os pensamentos ficaram frouxos diante da realidade apertada.
Chamar de "casa" um lugar desconhecido parecia encurralá-lo diante das impossibilidades daquela partida. Era chegada a hora de crescer, mas ele só queria segurar as mãos daquela criança que lhe acenava de longe.
Vez em quando, ao recordar aquele dia, mesmo convivendo melhor com os medos de antes, sua vontade é repousar seu corpo junto àquele menino e descansar.
Imagem capturada em http://www.zaroio.com.br/br/imagem/20912/passaro_patas_arame_farpado/
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