Até ontem tinha lido apenas 112 das 343 páginas do livro "Não me abandone Jamais" de Kazuo Ishiguro. Das pequenas sessões de leitura feitas antes de adormecer passei a um domingo mergulhado nas memórias e melancolias vividas por Kathy H. e sua longa amizade com Ruth e Tommy em Hailsham, o internato onde passaram toda a infância.
Pela voz contida de Kathy, descubro que os dilaceramentos da vida também se ocultam nas coisas simples, nas rotinas diárias e atitudes corriqueiras. Como aparência e essência, a realidade mostrada pelo livro conseguiu me falar sobre minha própria existência.
Vidas que não merecem ser vividas, destinos traçados e olhares para dentro da alma são os contornos para esta ficção cientifica(?!) que, potencialmente, se apresenta como uma história de rupturas e entrega. Mexido, terminei as 231 páginas restantes (em um único dia), com aquela sensação de que havia explorado, como nunca, o limite entre sensibilidade e crueldade.
"De olhos semicerrados, pensei no lixo, no plástico balançando nos galhos, na franja de objetos vários ao pé da cerca, e imaginei que esse era o lugar onde tudo o que eu havia perdido desde os tempos de infância tinha ido parar, e que se eu, ali imóvel, esperasse o suficiente, uma minúscula figura apareceria no horizonte, lá bem ao longe, e iria aumentando aos poucos [...]"
Aviso aos leitores possíveis: antes de se aventurarem pela leitura da obra, não leiam nenhuma sinopse mais longa da trama para não estragar as surpresas e revelações trazidas por Ishiguro. Sua regência, pela escrita, é capaz de orquestrar a precisão e a fluidez necessárias para uma experiência, no mínimo, instigante.
A adaptação cinematográfica do livro ainda não tem data para estrear no Brasil, mas já está em cartaz nos EUA. Veja trailer aqui.
Um comentário:
Depois do alerta, resisti e não espiei o trailer. rs
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