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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tempo para nada


Quando me bate essa vontade incontrolável de desenhar eu já sei que os dias, as horas e semanas estão ocupando minhas mãos e meus olhos com apertos no tempo e no peito. Em um suposto ensaio daquelas avaliações [des]necessárias de final de ano, olho para este último semestre e sentencio: "Foi difícil!"

Minha eterna vocação para "o jogo do contente" diz que a parte boa dessa sentença é que ao mesmo tempo sou réu e juiz nesse julgamento sem cabimentos. A justificativa desse olhar lançado por cima do ombro àquilo que já passou é motivada pelas feridas e atravessamentos que ainda latejam por aqui. É cansativo ficar falando só das bonanças, pois aprendi que pelas angústias e insatisfações os movimentos se mostram possíveis.

Se por um lado a hostilidade no ambiente de trabalho põe a prova algumas de minhas convicções, por outro, quero cada vez mais não estar convicto de nada. Se a solidão sempre foi minha companheira, descubro que algumas [in]visibilidades que ela suscita tendem a me incomodar.

Ao arranjar trabalho para preencher o final de semana, me certifico de que essa vontade de desenhar faz pensar que sou feliz justamente quando tenho tempo para nada(!)

Imagem: Wolney Fernandes

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