O olhar de quem retorna não descansa diante de paisagens conhecidas. As ruas e os quintais, antes campos largos de travessuras, agora parecem encolhidos pela adultice que me toma as vistas. De onde meu olhar alcança, escrevo noites sem o brilho das estrelas.
Dentro de uma gaveta empoeirada, o caderno da época da escola parece amarelar minha infância. A conversa de horas se cumpre em cumprimentos cheios de formalidades. Onde estão as amizades de dia inteiro?
Passeio pelo rio de águas poucas sem desejar atravessar seu leito. Falta a tinta azul daqueles dias de banho sem fim. Os mergulhos eu faço em lembranças profundas, mas o presente sempre me traz de volta à superfície das coisas, trazendo nas imagens de antes, as dores de hoje.
Voltar dói porque há desconhecimentos mútuos. E então, pela primeira vez, sinto saudade do futuro.
Imagem: cena do filme "A Hora de Voltar" (Garden State, EUA, 2004)
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