Na saída, recebi encomenda para passar no supermercado e acabei não resistindo ao cheiro e ao roxo das uvas de caixinha. Chupei uma às escondidas e decidi que aquele seria o sabor da minha arrumação de mais tarde.
Joguei montes de papéis acumulados e guardei outro tanto que fui encontrando pelo quarto. Terminei de ler "Um Dia" com aquela sensação de que a vida acontece na urgência do presente. Deixei a arrumação pela metade depois de olhar pela janela e perceber uma vontade de voar por um céu cor de rosa e frio. O céu de todo dia deveria ser rosado, nublado ou ensolarado, mas ainda rosado. Só para trazer frio pra ser sentido na pele e causar o aquecimento interno de cada um. Enquanto caminhava, a ideia de registrar todos os meus dias dezessetes se desenhou na minha cabeça.
Na saída do cinema, fiquei sabendo que o mundo já não tem mais Cezaria Evora, Joãozinho Trinta e Sérgio Brito. Coloquei "Sodade" pra tocar no iPod enquanto caminhava pra casa. Sábado cheio de perdas... Sábado cheio de achados: um bilhete encontrado na arrumação sussurra baixinho [e incessantemente] o que eu tento, por vezes, não escutar: "O amor é inevitável!".
De noite, saí para ver as luzes do Natal espalhadas por Goiânia e foi divertido como se estivesse em uma brincadeira. Porque o ideal é brincar. Brincar com a idéia de si mesmo.
Suspiro...
Suspiro...
Foto: Wolney Fernandes
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