quarta-feira, 25 de abril de 2012
Sempre alerta?
Enquanto as nuvens de chuva encobriam o último pedaço de céu azul, meninos e meninas se organizavam segundo a orientação do guia. O espaço do parque, tão vasto de possibilidades exploratórias, era demarcado em funções relacionadas a hierarquia daquele grupo de escoteiros.
Lobinhos, guias, pais e responsáveis eram orientados com rigor sobre o local do lanche e a posição que deveriam ocupar no grupo. Em torno da bandeira, o respeito em forma de postura deveria ficar evidente enquanto dois dos escoteiros hasteavam a flâmula que fôra instalada provisoriamente em uma árvore do parque.
A cena parecia deslocada em tempo e espaço porque aquela dinâmica de caráter tão institucional não deixava brechas para as deambulações e seus improvisos.
Os atrasadinhos, por terem burlado a precisão dos ponteiros, eram renegados ao final da equipe. Ofegantes, logo eram incorporados ao silêncio sistemático daquela cerimônia de sábado à tarde. Só o escoteiro sênior tinha o poder da fala.
Solenemente, aquele espaço de interação era transformado em espaço de patentes e filas demarcadas. Os pais exibiam, com orgulho, os filhos obedientes, alinhados e alinhavados por aquele poder cartesiano, um tanto quanto efêmero, de moldar a pessoa para ser boa o tempo inteiro.
Discursos bradados com veemência pareciam querer demarcar o amor pelo escotismo e se prolongariam tarde afora, imagino eu, não fosse a chuva que começou a cair naquele instante.
Não houve fila indiana e nem patentes que suportassem a imprecisão do temporal. "O salve-se quem e o que puder" diante da dinâmica da chuva, deixou à mostra toda a falácia daquele discurso desprovido de vivência. A bandeira, tão amada e respeitada, foi abandonada sem o menor constrangimento. Sozinha no meio do temporal, depois da debandada geral, parecia sinalizar a fragilidade daquele modelo de educação que não dá conta das intempéries e nem da complexidade do nosso tempo.
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