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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Vermelho Amargo


De cunho autobiográfico, Vermelho Amargo se insere naquela categoria de livros que nos rasgam a carne pela beleza e dor guardadas em seu conteúdo.

Por meio das fatias de tomates que a madrasta corta e dispõe no prato do menino que perdeu a mãe, somos arremessados em lembranças de uma infância cheia de vazios, mas ao mesmo tempo, permeada por deslumbramentos.

Uma narrativa breve e profundamente marcada pela perda. Exatamente por isso, densa, de cortar o coração e muito poética.

Mais não consigo dizer. Talvez esse vídeo e os trechos destacados abaixo digam melhor:

"Quando invertida, a palavra aroma é amora. Aroma é uma amora se espiando no espelho. Vejo a palavra enquanto ela se nega a me ver. A mesma palavra que me desvela, me esconde."

"Aturdido por ter a alma como carga, e suportá-la para viver o eterno que existia depois de mim."

"Sobre os dias, a ausência da mãe ganhava corpo. O tempo - capaz de trocar a roupa do mundo - não consumia sua lembrança. Quando se ama, em cada dia o morto nasce mais."

"Ao amar, desvendei a serventia do corpo, para além de guarda a alma imortal. (...) No amor, meu corpo delatou a presença da alma, que veio morar na superfície de minha pele."

"Passarinho é uma vírgula pontuando o céu."

"Viver exige perguntas e eu, mudo, não sabia responder."

"Não dar palavras ao desejo é ocultá-lo na solidão."

"A memória suporta o passado por reinventá-lo incansavelmente."

"Um sonho fora do sono persistia em mim. Nasci afogado por ele: o de desvendar o mar. Afundar-me em sua grandeza, salgar-me em sua salmora, esconder-me em suas ondas, surgir desafogado onde nem eu me sabia."
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Livro: Vermelho Amargo [5/5]Autor: Bartolomeu Campos de Queirós
Editora Cosac Naify

Foto: Wolney Fernandes

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