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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Depois dos Trinta

Depois dos trinta anos, algumas questões antes adiadas com certa displicência passam a fazer parte do nosso cotidiano. Pagar as contas a cada mês (e ter a nítida impressão de que elas sempre aumentam), ser responsável pelas próprias falhas (em todo e qualquer plano), dormir sozinho em noites frias (mesmo com o coração aquecido pela última visita do seu bem querer), pensar em comprar uma casa própria, ler aquele clássico considerado inacessível desde os vinte anos (e que desafia você a cada nova arrumação da estante)...

Você também passa a pensar mais nos cabelos brancos que começam a aparecer. Depois dos trinta anos, você passa a ouvir mais os Beatles que os Rolling Stones, começa a achar graça em filmes e livros que até então nunca fizeram sentido... e faz planos mais concretos para aquela viagem dos sonhos jamais realizada. É também nessa fase que você se defronta com alguns fantasmas ameaçadores: a sombra do desemprego, os baixos salários, a qualificação sempre adiada... sim, as luzes da ribalta se distanciam a passos largos dos nossos olhos... nossas miragens são outras (já não seremos cineastas, escritores, cantores renomados)... nosso foco é a chamada "segurança" (tão falsa quanto a tentativa de aprender chinês para ter mais chance no mercado de trabalho no mundo globalizado).

Passar dos trinta anos faz a gente querer conhecer personagens desconhecidos da nossa mitologia pessoal e universal para espantar todos os fantasmas que nos perseguem. É quando passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. É quando somos os titulares de nossas decisões. E sim, a maturidade nos permite uma certa loucura. Até mesmo acreditar que sempre há uma nova chance para começar de novo em um mundo de infinitas possibilidades.

01 de abril de 2008
Imagem: Highway and Byways de Paul Klee, 1929

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