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sábado, 9 de agosto de 2008

Monólogo no Elevador

Mexo no meu iPod enquanto a porta do elevador se abre e as duas entram invadindo minha busca solitária por uma música menos dançante depois da caminhada. Percebo os contrastes logo de cara: a mais alta tem cabelos longos com mechas douradas alisadas artificialmente. O corpo esculturalmente moldado se ajusta numa calça jeans com corte bem moderno. O decote deixa à mostra seios fartos e bem firmes para uma mulher de mais ou menos 45 anos. A amiga, quase da mesma idade, tem os cabelos castanhos presos numa presilha bem gasta. O vestido com flores bem miudinhas esconde o corpo de pele branca.
Entram conversando no elevador e praticamente ignoram minha presença:
- Eu por exemplo, namoro com um médico. Você já me viu com ele aqui no prédio. Um careca... moreno - Diz a loira à amiga que faz um movimento de consentimento com a cabeça.
- Pois é. Ele tem família. A esposa é uma estérica. Mas os filhos todos sabem que ele fica aqui comigo.
A amiga morena arregá-la os olhos. Olha para a amiga e para mim. Eu finjo que estou absorto ouvindo a música escolhida.
- Estamos juntos há 5 anos. Mas ele não é minha alma gêmea, não! - Desta vez ela olha pra mim e procura confirmação - Você não acha? Se ele fosse minha outra metade já teria tomado alguma atitude.
Antes que eu possa esboçar qualquer reação a porta do elevador se abre e as duas saem pelo corredor. A loira ainda falando: Sou eu quem tenho que tomar uma atitude! Eu que sou a boba da situação e...
A porta do elevador se fecha e eu sigo pro décimo andar sem conseguir me decidir por uma música que realmente valha a pena escutar depois daquele monólogo do elevador.

04 de julho de 2008
Imagem: Wolney Fernandes

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