Parece óbvio dizer que não há fórmulas para definir o amor. Para viver o amor em sua forma mais perfeita é preciso, apenas, amar. O problema é que o amor não é uma via de mão única. As escalas de sentimentos entre pessoas que se amam é que são as responsáveis por complicar tudo (e tornar tudo divertido também). Não é possível quantificar, medir, imaginar o tamanho de um amor. Basta amar. As diferenças entre o que uma pessoa sente por outra, e vice-versa, é que dão o tom do relacionamento. A idéia de que o relacionamento perfeito só acontece quando as duas pessoas estão exatamente na mesma sintonia é bem abstrata e soa, pra mim, até meio chata.
Se na vida real, viver o amor é lidar com extremos, no cinema não poderia ser muito diferente. Há filmes melosos demais ou estórias que tratam o amor com certo rancor. Existem alguns poucos filmes que conseguem trafegar na linha fina que separa a perfeição da obviedade. É exatamente nesta linha fina que trafegam dois dos filmes que encabeçam minha lista de prediletos: Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995) e Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004).
Na primeira narrativa a francesa Céline (Julie Delpy) e o americano Jesse (Ethan Hawke) se conhecem numa viagem pela Europa e descem do trem para passear em Viena. Passam a noite juntos e acabam se apaixonando. Na hora de ir embora, marcam um novo encontro: seis meses depois, no mesmo local, eles voltariam a se ver. Não trocam nomes, nem telefones. Jesse volta para os Estados Unidos, Céline volta para a França e... o filme acaba. Antes do Amanhecer registra diálogos precisos sobre possibilidades e mostra o encontro de algo que, na verdade, não se encontra: é apenas o acaso pedindo uma chance para se transformar em realidade. Sua beleza reside no perfeito retrato da inocência juvenil e no carisma do casal Julie Delpy e Ethan Hawke.
Em uma das melhores cenas do filme (clip abaixo) notem como as palavras não se fazem necessárias diante dos sentimentos que envolvem os personagens. Há um encantamento que ultrapassa os limites da cabine onde os dois entram para ouvir um disco. Destaque para a música "Come Here" de Kathy Bloom.
Antes do Pôr-do-Sol, a continuação do primeiro filme, é também sóbrio, inteligente, honesto e, acredite, inocente. Nele acompanhamos a história de Céline e Jesse nove anos depois da noite de luar passada em Viena. Será que eles ficaram juntos? Será que casaram? Será que ambos se transformaram em pessoas totalmente diferentes uma da outra? Céline foi aos EUA? Jesse foi para a França? O que aconteceu com a vida do casal romântico? Mais perguntas.
A sinopse de Antes do Pôr-do-Sol é simples. Jesse está em Paris, última escala da turnê de divulgação de seu novo livro, que conta a história de um rapaz que conhece uma francesa em um trem e passa uma noite inesquecível ao seu lado. Na pequena e charmosa livraria, em um canto, Céline observa a cena. O reencontro do casal põe fim a todas as perguntas acima.
Céline e Jesse caminham juntos, agora, pelas ruas de Paris. A câmera segue os dois protagonistas por uma das cidades mais belas do mundo. É possível, de cara, perceber que o tom da conversa mudou. Naturalmente, ao tom sonhador do primeiro filme são adicionadas as experiências dos protagonistas e uma certa melancolia. O filme se passa no tempo real de um passeio pela capital francesa, e tudo é centrado nos diálogos do casal. Em cerca de 80 minutos, Céline e Jesse relembram histórias da noite em Viena, desvendam o obscuro dos nove anos, exibem a mesma inocência (agora, claro, ferida pela amargura) e conquistam o telespectador, impossibilitando o abandono da trama antes que ela seja concluída.
Depois de assistir, pela sexta vez, os dois filmes concluí que ambos flagam o momento em que o amor caminha na linha fina da perfeição. O resultado é uma história tocante, comovente, sincera. Sobretudo, bela e simples, como o amor.
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