Enxergo o tempo como um “senhor” todo poderoso que nos pega pelo avesso e vai amarrotando aos pouquinhos enquanto passa. Devo confessar que é bem difícil, às vezes, sentir as marcas surgindo diante dos meus olhos incrédulos só pra confrontar minha necessidade natural de ver pra crer. No princípio não havia um fio sequer de cabelo branco. Hoje já são mais de 17!
Meus temores diante do tempo me deixam saudosista de um tempo que não volta mais, mas é onde minha cabeça insiste em permanecer. Temo não saber acompanhar esses dois ritmos e chegar aos 60 anos com cabeça de menino de 20. De fato, eu queria era envelhecer com a saliva e o paladar presentes na boca. Envelhecer como o bem que se almejou, enxergando-se à frente do nariz com uma clareza nunca vista antes.
Por hora, tudo é utopia, mas tenho fé que essa paciência divina, que sustenta meu espírito e faz de mim esse menino feliz, me dê a doce sensação de ser, para sempre, um eterno aprendiz.
Quem me ajuda a sonhar assim é o Silvio, amigo de distância, poeta ditoso e arquiteto que constrói poemas tão bonitos que depois de lê-los a gente começa a enxergar a vida de um jeito todo gostoso. Foi assim quando li “Tudo bem” o poema que reproduzo abaixo. Pra quem quiser se deliciar com outros textos poéticos, o moço tem um blog apetitoso chamado “Fogo de gelatina em pó”.
Tudo Bem
Poema de Sílvio Vinhal
Minha tez no espelho
Não tão clara,
Não tão macia,
Não tão lisa.
Aquele menino continua lá,
Encapsulado,
Olhando através dos meus olhos
E segurando as grades
Da minha vida adulta.
Tudo está bem,
Embora as cores se encantem
Com os matizes gris e prata.
E tudo vá ficando (um pouquinho apenas)
Mais pálido.
Imagem: Wolney Fernandes
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