Sou daqueles leitores ávidos e esquizofrênicos, do tipo que não consegue ir ao banheiro sem levar palavras junto. É terrível, e admito que sou um dependente. Já cheguei a ponto de pegar catálogos de máquinas agrícolas - e até uma lista telefônica! - para me acompanhar. Lastimável.
Mas isso me dá alguma vantagem (eu sei, não muita) na hora de definir o que eu acho bom e o que eu não acho. Por exemplo, adoro prefácios. O prazer em ler um bom livro só pode ser bem aproveitado se o prefácio for instigante e esclarecedor. É como degustar de vinhos: primeiro se observa, sente-se o aroma e só depois se coloca a bebida na boca. Nenhum destes passos é supérfluo.
Minha lista de hoje traz alguns livros com prefácios que valem tanto quanto o texto principal:
Livro:
Conversas com Almodóvar
Prefácio de Frederic Strauss
Trecho:
"Nada mais belo que o amor paternal da mulher que já foi homem; nada mais belo que o elogio da feminilidade autêntica feito por um homem que se tornou mulher."
Livro:
Memória e Sociedade - Lembrança de velhos de Ecléa Bosi
Prefácio de João Alexandre Barbosa
Trecho:
"Narrar é também sofrer quando aquele que registra a narrativa não opera a ruptura entre sujeito e objeto."
Livro:
Confidencial de Walderes Brito
Prefácio de Agostinha Vieira de Mello
Trecho:
"Transbordar um despudor com que deveríamos falar da vida, do corpo, etc e tal. Despudor que deveria cobrir a gente, dos pés à cabeça de dignidade... e de simplicidade."
Um comentário:
Olá Wolney, sou Bruna Pallini da Edelman, agência de comunicação da Zahar. Que bom que leitura faz parte do seu cotidiano.
Strauss conseguiu colocar na introdução de "Conversas com Almodóvar" a linha que conduz a entrevista, por isso ficou tão bom.
Abraços
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