Encaixotou metade da vida. A outra metade, espalhou meticulosamente à sua frente. Aquele espaço no chão, com pedaços de vida espalhados, era praticamente sua memória. Nas laterais, imagens rabiscadas ao sabor das liberdades, das folgas nos contratos e compromissos.
No centro, sua dificuldade em ver a beleza de estar exatamente assim: no limbo dos rumos, na tranversal das perspectivas, com o hálito de bebida alcóolica daquele último final de semana. Perdido só está, aquele que em algum momento obteve direção, rumo, ordenamento.
Desarrumando o passado, sentia-se novo em folha, como se tudo fosse possível. Trocaria essa infinidade angustiante de possibilidades, os elogios nublosos e os tapinhas nas costas recheados de bons futuros, por um punhado de vida que lhe coubesse na mão. E assim, pudesse ir gradualmente mergulhando e desesperando-se com a vida, sabedor de cada grão perdido e sem segunda chance para ser vivido.
Sem esse punhado de vida, pelas mãos vazias escorriam rios de uma solidão a transbordar os dias. Sentia a solidão como uma aceleração brusca no relógio, mas que passa cada segundo numa profunda lentidão. Na solidão se envelhece. Nos outros instantes, se amadurece.
Recolheu aleatoriamente os pedaços e colocou no bolso da calça jeans desbotada. Descalço, tentou medir seu limite, mas não soube precisar as fronteiras. Ao sinal de um desconforto, meteu as mãos nos bolsos para disfarçar o tremor dos medos que lhe impedia caminhar como antes.
Imagem: Wolney Fernandes
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