Tudo à minha volta era preto e branco. A catedral majestosa se erguia em linhas góticas. Enquanto meus olhos contemplavam sua altura, o barulho da feira que acontecia estranhamente dentro da igreja me induzia a caminhar entre os/as feirantes. Apesar de ser a única pessoa colorida, a multidão não me notava, pois sua única preocupação era o ofício do comércio.
Caminhar entre os/as transeuntes era bem fácil, os feixes de luz branca que entravam pelos vitrais desbotados deixava tudo claro demais. Pelo cenário surreal eu logo percebi que estava em um sonho, mas isso não me abalou. Continuei caminhando.
Foi então que minha avó Cecília, mãe da minha mãe, surgiu na multidão. Diferente daquela imagem curvada e idosa que eu trazia na lembrança, ela apareceu altiva e jovem. De cabelos presos num rabo de galo baixo, sorriu quando me viu e nem precisou dizer que era minha avó. Eu já sabia. Caminhou até mim e ofertou-me um presente que trazia nas mãos.
Era um pequeno livrinho de imagens. Várias fotografias amareladas com bordas repicadas mostravam um lugar que eu não conhecia. Sorrindo, ela falou calmamente: "Sei que você gosta de imagens, então este livro é para você conhecer o lugar onde sua mãe cresceu. O quintal que ela brincou, as árvores que ela subiu, a casa do sítio onde a gente morou antes de nos mudarmos para Lagolândia".
Antes que eu pudesse esboçar uma resposta, senti uma mão em meus ombros e, ao me virar, vi minha tia Dita, irmã de minha mãe, com sorriso emoldurado pelos cabelos longos e lisos. Foi sorrindo que ela completou: "É um lugar bonito, por que não leva sua mãe até lá para matar as saudades que ela sente do sítio?"
Com um estremecimento, destes que fazem o corpo vibrar sobre os lençóis, eu acordei.
Imagem: A única imagem do lugar descrito no sonho. Arquivo Pessoal.
Um comentário:
Adorei ler este "sonho em preto e branco"...
Para mim este sonho é feito de mil cores ... Consegue fazer com que nos sintamos parte da história.
Gostei muito !
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