Querida Sofia,
Meu olhar arde buscando repouso em imagens conhecidas. Pela janela salpicada de chuva é difícil reconhecer a paisagem dos dias quentes. São 2h58 da madrugada. Há quanto tempo estou aqui? Eu me pergunto pelos tempos de antes... pelos meus próprios tempos. Ultimamente, eu, os tempos e os lugares parecemos meros desconhecidos.
Estranho perceber como estes desconhecimentos revelam meu avesso. E, desse outro lado, percebo que minhas preleções nunca resistem ao peso das realidades e, ao confrontá-las, só consigo afirmar minha perenidade.
O que há de concreto em mim, escondo! O que sobra são virtudes inventadas. É embaraçoso descobrir-me sem coragem pra cuidar daquilo que meu corpo - desprezado - padece. Olho e não tenho argumento contra meu olhar.
Minhas intermináveis sessões de cinema e computador justificam os olhos vermelhos e inchados pelas distâncias. O reflexo no espelho zomba da minha inércia ao tentar encontrar a beleza que eu nunca terei. Minhas insônias esbofeteiam minha face de moço feliz enquanto as dores de cabeça do lado esquerdo sinalizam patologias invisíveis.
Ao pular de segunda em segunda, lanço mão da influência gerada pelas expectativas e me contento com elas. Prendo a respiração diante da janela e, em silêncio, como em uma oração, aceno para a espiritualidade que deixei pra trás fazendo um gesto obsceno. Despido das amenidades que cobrem minhas chagas, me permito, pelo menos nesta madrugada sem fim, lançar-me em melancolias e dores que não passam.
Beijos nauseados.
Wolney
Imagem: Wolney Fernandes
Um comentário:
eita madrugada adentro, heim...rs
seu texto é bom, garoto!
jorge (letras-ufg)
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