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terça-feira, 15 de junho de 2010

"Se acaso..."

Visão, audição, tato, paladar, olfato e... memória. São seis os sentidos que marcaram minha relação com a narrativa do filme "Uma vida iluminada" (Everything is Illuminated, EUA, 2005). A história fala do tempo, que não cristaliza os acontecimentos, mas os reconstrói pelo perfume das lembranças. Marcas que aprofundam relações mais do que individuais, pois reforçam vínculos identitários espelhados nos objetos e nas histórias que precisam ser contadas.

O filme narra a viagem de Jonathan à Ucrânia em busca de Augustine, a mulher responsável por salvar seu avô da morte pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Jonathan é um jovem judeu norte-americano, colecionador de objetos familiares que são acondicionados em sacos plásticos, etiquetados, catalogados e expostos nas paredes de sua casa.

Seus objetos, tão distintos entre si (de dentaduras a fotografias), guardam como referência e linha que conduz a sua história familiar. Como um reordenamento do mundo, a coleção de Jonathan fala de escolhas, fala da vida e, é claro, de batatas... São esses objetos familiares - uma fotografia amarelada e um âmbar envolvendo um inseto - que faz com que nos desloquemos, ao lado do protagonista, a uma viagem de (sur)realidades iluminadas por significados que se constroem no presente ou que estão há tempos esquecidos.

Cada objeto guardado por nós, carrega consigo marcas de memórias e ao serem entrelaçados com os indivíduos e com outros objetos que vão sendo coletados constroem novas redes de significação. Como na caixa de pertences que, no filme, carrega um bilhete onde se lê “Se acaso...”

"Se Acaso...", nesse caso, se revela como pequenas eternidades que desenham horizontes além da nossa existência. Como diz uma das personagens do filme, ao discutir o gesto e as últimas palavras de sua irmã: a aliança foi guardada dentro do pote de vidro e enterrada não porque as pessoas que buscavam por ela existem, mas é por causa da existência deste ato [guardar a aliança em um pote) que elas vieram procurá-la: “Se acaso alguém a procurasse um dia”, era ali que ela estava.

É assim que desejo estar também em minhas miudezas, guardados e rabiscos em pedaços de papel sem valor.

Foto: Imagem capturada do próprio filme.

3 comentários:

Odailso Berté disse...

Também fiz a experiência de "Uma vida iluminada" e compartilho cada sensaçãom além de construir outras, a partir da minha realidade. Compartilho e almejo ser apoio nas miudezas de que você fala, poeta/menino da terceira margem do rio de possibilidades. Teus guardados e rabiscos em pedaços de papel se fazem achados e traços em inteiros de afeto, que para mim, se fazem valiosos.

Jefferson Cirino disse...

Vou assistir o filme e depois lhe falo como foi.
Bacana a iniciativa de seu blog.
Até mais...

Jefferson Cirino
ipatinga/MG

Carla disse...

Vi até meio e depois não consegui ver o resto, agora não o encontro em lado nenhum. :(
A OST é fantástica. :)