O motivo da loucura ninguém sabe, ninguém explica. Uns contam que foi por causa das atrocidades do pai... Outros acusam as maldades do marido que a abandonou depois de submetê-la a dias de cativeiro sem água e sem comida.
Depois que perdeu a razão, Badia anda pelas ruas de Lagolândia desafiando padrões e subvertendo a moral dos/as moradores/as do vilarejo. "Cuidado com ela!" - repetem amiúde.
Em dias de veneta, dependendo de como é olhada, retribui o pecado atirando a primeira pedra que a mão alcançar. O xingamento que lhe sai da "boca suja" se completa com o gesto de mostrar a própria bunda sem os pudores exigidos pela "pura e casta" população lagolandense.
Na festa do Divino, de tamborete na mão, ela sai à procura de lugares pra sentar, desde a escadaria da igreja à porta do ranchão, pois não fica satisfeita com nenhum deles por mais do que 5 minutos.
Badia do Tunico é sempre apontada como "a louca" que perdeu o juízo. Vez por outra é lembrada pela lucidez que o trabalho manual, entre bordados e crochês, sugere. Prendada, ela mesma fabrica as próprias roupas com alinhavos, babados e coloridos que só ela sabe compor.
Ao destoar do restante da cidade, sua imagem revela medos, [des]afetos e mistura [in]tolerâncias éticas e estéticas. Todas elas, fruto de ruminações filosóficas que nos ajudam a proclamar nossas semelhanças pela diferença.
Foto: Agno Santos
2 comentários:
Quantos de nós gostaríamos de, em algum momento, deixar a nossa loucura falar mais alto, e que todos os padrões impostos fossem escancarados, não importando nada nem ninguém.
Cara, esses personagens sim são dignos de um livro... Fascinante saber que ela fabrica as próprias roupas, que carrega seu banco para "fotografar" e tantas outras coisas... Acho que essa mulher deixou a loucura para trás para tentar aprender a viver...
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