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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O alvo que eu escolhi ser

Havia um tempo, e não faz muito, que meu sorriso não tinha vincos nos cantos e sabia ocupar-se da língua, sempre insana.
Havia um tempo, e não faz muito, que a minha boca, destemperada em sua cor de nascença insistia em buscar semelhanças em outras bocas, outras moças, outros moços, outros tantos, comunhão.
Havia um tempo, e não faz muito, que meu corpo rijo oferecia céus e infinitudes, e sabia correr o estado do risco, e sabia parar sob ordens que só ele, ele mesmo, dava a si.
Havia um tempo, e não faz muito, que vivia o meu coração gerando as ideias que minha cabeça executaria sem pudores.
Hoje, reservo dores para os começos. Vou vivendo. Troco dias por cicatrizes. No final dos tempos, vou ser um mapa delas, cada uma indicando um caminho, uma trincheira, uma saraivada de tiros em posição de alvo. O alvo que eu escolhi ser.

Foto: Wolney Fernandes

3 comentários:

Juliana Kalid disse...

imagem interessante... somos mesmo verdadeiros alvos de nossas próprias escolhas. todos nós. cada qual com suas cicatrizes, suas lembranças, seu mapa estampado na pele. Cada qual com seu "tempo que não é mais, mas não faz muito". :)

Wolney Fernandes disse...

Pois é, Juliana! Somos verdadeiros alvos das nossas escolhas. Bom é quando a gente se dá conta disso, né? Antes é um sofrimento só. Obrigado pelos comentários. Volte sempre!

Lili disse...

E o tempo é senhor de sí...