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sábado, 25 de agosto de 2012

Confrontos


O vinho circulava em pequenas taças que tilintavam a cada novo brinde. Um breve esquecimento do mundo foi um direito que julguei merecer. A cada gole, fechava os olhos buscando o sabor imediato daquela ausência de mim que eu tanto almejava.

Desprovido do gosto dos esquecimentos, a cada conversa posta na roda o amargo da realidade se misturava ao doce do vinho tinto. Viagens ao redor do mundo me levavam de volta aos abarrotamentos do meu quarto. Amores derramados por anos a fio preenchiam meu coração vazio com os fracassos dos meus próprios afetos. Sucessos profissionais me lembravam o suor que derramei para cruzar a linha de chegada em terceiro lugar. Projetos para o futuro apontavam os espaços em branco do meu presente que não se ausenta.

Olhei para as migalhas de pão em meu prato e me juntei a elas. Naquela noite, não houve brechas em minha realidade por onde a alegria pudesse entrar. Ali, em meio aquela celebração profana, a vida me confrontou.

Imagem de James Gallagher. Olhei aqui.

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