Meu desejo era inaugurar nessas linhas uma maneira de não me repetir, mas fazer o que se sou um amontoado de repetições em ritos que adoro saber de cor? Em dezembro de 2011, comecei a colecionar os dias dezessetes de cada mês fazendo um diário que completa um ano hoje.
No final do dia, refiz o mesmo trajeto que inaugurou esta sessão em 2011. Caminhei pelas ruas do Centro com a sensação de que encontraria comigo mesmo: barba por fazer, cabelo mais curto, camiseta pintada a mão, olhar perdido em absurdos cotidianos. Abraçaríamo-nos em silenciosa compreensão e, em seguida, eu me explicaria o quanto é desnecessário o sofrimento em vão.
Depois de muitos dizeres, me encheria de afagos para que não fosse preciso dizer mais nada. A pele sendo a memória do corpo desenharia cicatrizes e sossegos que o Wolney de antes não ousaria experimentar.
E assim, de mãos dadas comigo mesmo, sem corromper a velha prosa sobre o tempo ou a falta dele, caminharíamos pela rua vasculhando perfumes conhecidos e aleatoriedades horizontais.
Afinal, reencontrar-se é uma das formas de seguir em frente.
Imagem: Wolney Fernandes
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