Nasci na roça. Ajudei a arrancar feijão, cobri buracos com terra para a plantação brotar e quebrei milho para a pamonha. Na rabeira do arado, falar não podia porque era distração que a lida não permitia. Menino não reclama, escuta os bichos enquanto o sol, à pino, estica as horas o quanto pode.
Nas pescarias, peixe se fisgava com o silêncio do pescador. Na sala de aula, ouvia-se apenas o resmungo do giz sujando a lousa e conversar era o recheio do recreio. Em prosa de adulto, nem o olho era capaz de alcançar o assunto. A boca, então, nem se fala!
Cresci sem muita vontade de falar, como se uma conversa interna e silenciosa pudesse dar conta do pouco que eu tinha para dizer. Havia também a gagueira que me fazia - e ainda faz - considerar dois tempos antes de pronunciar o que desejo.
O silêncio nunca foi, para mim, uma língua estrangeira. Então, de onde vem essa vontade louca de gritar?
Imagem de Edvard Munch
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