Virei a esquina, já bem pertinho de casa e avistei o casal apaixonado a trocar beijos numa tarde qualquer. Fiquei ali com eles. Desconhecido, testemunha a metamorfosear o que via em cantigas de amor.
Enquanto o sinal verde ordenava "atravesse!", eu empaquei.
Guardei para mim aquele momento que era só deles. Quem dera pudesse encontrar toda a felicidade do mundo escondida no céu da boca. Desejei compartilhar a imagem, mas em algum lugar aqui dentro, alguma coisa muito frágil, um quase nada me soprava pudores.
Sempre que eu olhava para a foto no álbum do meu celular, lembrava do conselho dado pelo Walderes diante de uma imagem semelhante: "Você ainda vai revelar segredos impronunciáveis ao flagrar beijos pelas esquinas!"
Visível, ainda que impronunciável, aquela intimidade se derramava pela calçada afora. O instante foi apenas um resquício que eu peguei pra mim.
Desculpa, Walderes!
Alguns dias depois e nenhuma fagulha daquele pudor que eu mesmo ensaiara, a foto embelezava, em preto e branco, o álbum do meu instagram.
Para a minha surpresa, sete dias após a publicação, os protagonistas do beijo, anônimos pra mim, chegaram até a foto! Diante da imagem roubada - tão minha! - celebraram o afeto, compartilharam o beijo e vislumbraram corações ao redor daquela felicidade tão deles.
Que mundo pequeno e bonito esse nosso.
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