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sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sobre a beleza dos começos


Quando os começos dos livros já contêm toda beleza do mundo:

Um Homem Só
[Chistopher Isherwood]
"Despertar começa com o dizer-se sou agora. Aquilo que acordou fica, então, deitado por algum tempo, contemplando, lá em cima, o teto e, cá embaixo, a si mesmo, até reconhecer o eu e, portanto , deduzir eu soueu agora sou."

Noites de Alface
[Vanessa Barbara]
"Quando Ada morreu, as roupas ainda não tinham secado. O elástico das calças continuavam úmido, as meias grossas, as camisetas e as toalhas de rosto penduradas do avesso, nada estava pronto. Havia um lenço de molho dento do balde. Os potes recicláveis lavados na pia, a cama desfeita, os pacotes de biscoito aberto, em cima do sofá - Ada tinha ido embora sem regar as plantas. As coisas da casa prendiam a respiração e esperavam. Desde então, a casa sem Ada é de gavetas vazias."

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres
[Clarice Lispector]
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O Filho de Mil Homens 
[Valter Hugo Mãe]
"Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo. Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas. Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía."

Lavoura Arcaica
[Raduan Nassar]
"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo."

A Bolsa Amarela
[Lygia Bojunga]
"Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades."

Bonsai
[Alejandro Zambra]
"No final ela morre e ele fica sozinho"

A Morte do Pai
[Karl Ove Knausgard]
"Para o coração a vida é simples: ele bate enquanto puder. E então para."

Essa postagem foi inspirada nesse vídeo da Aline Aimee.
Foto:  Wolney Fernandes

Um comentário:

alineaimee disse...

Esses começos nos dão vontade instantânea de conhecer os livros. Que lindo o de "Noites de Alface"!