Depois de um almoço coletivo me separei do grupo para caminhar sozinho. Deu até um frio na barriga ao me ver sozinho na esquina da Quinta Avenida. Andei como um bobo, olhando para cima e tentando enxergar alguma paisagem conhecida (dos filmes, é claro!). Caminhei um quarteirao e quando virei a esquina vi lá no final da rua o Empire State Building. Mais uma vez aquela sensação cinematográfica me veio a cabeça. Daí me lembrei de filmes como: Tarde demais para esquecer, King Kong, Sintonia de amor...Na esquina do famoso edíficio encontrei uma papelaria incrível. Um verdadeiro labirinto onde as paredes eram papéis, tintas, lápis, envelopes... enfim, o paraíso para um ilustrador. Fiquei andando por aqueles corredores sem prestar atenção no tempo e saí de lá com um moleskine que há tempos eu namorava sem conseguir encontrar no Brasil.
De lá, segui para a Times Square. No caminho descobri que andar sozinho pela cidade tinha suas desvantagens. Além de não ter com quem partilhar as emoções não dava para tirar fotos legais de mim mesmo nos lugares que eu queria. No meio daquele caos imagético pedi a uma moça oriental para fazer uma foto minha usando como referência o local onde o Hiro de Heroes apareceu a primeira vez em Nova York.Creio que girei umas 7 vezes em torno de mim mesmo tentando assimilar todas as informações que me cercavam. Uma vertigem me fez fechar os olhos e, ao abrí-los, não consegui encontrar mais vontade para explorar aquele mundo de som e imagem.Resolvi descer uma daquelas ruas sem saber onde iria chegar. Quatro quadras depois e muitas paradas para fotos e entradas em lugares inacreditáveis, vi o Central Park aparecer seco, frio e quieto na minha frente.
Minha vontade era entrar, mas me contive. Não valeria a pena visitar aquele lugar no final do dia sem a luz do sol que ja havia desaparecido no meio dos prédios. Olhei o relógio e me assustei ao ver que eram apenas 17 horas e já tinha anoitecido. Uma carruagem levando um casal para o parque passou por mim. Resolvi andar um pouquinho mais ao redor. Peguei uma das tantas folhas secas que se amontoavam pelas beiras do parque e guardei dentro do livro da Clarice Lispector que eu trazia na mochila.Senti os pés cansados da longa caminhada e resolvi voltar para o albergue. A ideia de voltar de táxi era tentadora. Não hesitei e me dei ao luxo, afinal era só atravessar o parque (que é muito grande) até o Upper Side West e já estaria no hotel.Entrei no taxi amarelo (que tinha gps, aquecedor, tv...), dei as instruções ao motorista e resolvi aproveitar a corrida para olhar a cidade da janela do carro. A sensação que me acompanhou foi estranha. Como se eu fosse arrancado da minha realidade. Como se ali, eu não fosse o Wolney brasileiro, filho, irmão, designer, funcionário da CAJU, dono da Engenho, mestrando, amigo... mas um completo desconhecido sem eira nem beira, nem nada para se preocupar, equilibrar ou sequer pensar. Só olhar.O anonimato de mim mesmo, naqueles minutos que estive dentro do táxi, me fez reecontrar sentidos que estavam esquecidos em gavetas do tempo. Nao dá para explicar isso com palavras porque é mistério que faz a alma ficar mais leve. Por hora estas sensações me bastam para adormecer com o coração mais sereno.
17 de Janeiro de 2008
Imagens: Wolney Fernandes
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
O mundo mora aqui
Primeiro dia em Nova York. Sao 22h aqui. 01 da madrugada no Brasil. Estou na cama K do quarto 205 do Hostelling, um albergue muito transado que fica a duas quadras do Central Park. Depois de um dia cheio, estou sonolento e quase não consigo organizar com clareza as emoções de me sentir estrangeiro em terras tão distantes.Está muito frio. Cerca de dois graus. Mesmo preparado, dá para sentir a diferença quando coloco os pés nas ruas. Olhos começam a lacrimejar, nariz se avermelha e os lábios queimam feito pimenta.Andar pelas ruas desta cidade é como estar num set de filmagem, pois tudo o que vejo me soa cinematograficamente familiar: Do ônibus escolar amarelo às escadas de incêndio que estão espalhadas por todos os prédios aqui.As pessoas parecem ter saído de um editorial de revista de moda. Sempre achei que roupa de frio deixa todo mundo mais elegante. Aqui elevo a nona potência esse pensamento. Tudo é assombrosamente gigantesco e em cada esquina esbarro em gente falando línguas diversas. O mundo mora aqui.
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