Aminah Robinson é uma artista que vive com seus dois cachorros aqui em Columbus. Entrar em sua casa foi uma experiência muito peculiar. Ali, não consegui definir as fronteiras entre arte e vida. Sua obra está conectada ao seu cotidiano de tal modo que um não se separa do outro. Espalhados por todos os cantos da casa estavam livros, tecidos, obras, linhas, botões... retratos de quem se aprofunda naquilo que faz.
Uma espécie de árvore da vida construída com diversos tipos de materiais reciclados ocupava quase toda a cozinha. Seus galhos escondiam varias caixinhas de música que, quando acionadas simultaneamente, tocaram minha alma como um poema sinfônico. Ao comentar com a artista que sua obra, de certo modo, me fazia mais forte, ela docemente explicou-me que a força do seu trabalho vinha das pessoas. Das estórias que ela ouvia ainda no ventre de sua mãe. Da vontade de voltar a Angola sem nunca ter estado lá. Da sua conexão com aquele lugar por causa de seus antepassados.
Ficamos por horas, ouvindo-a discorrer sobre suas motivações e desejos. Sobre como ela mistura sua expêriencia vivida com sua arte. Mesmo depois de sair dali continuei remoendo tudo o que vi e ouvi. De lá seguimos até o Museu de Arte de Columbus, pois domingo era o último dia da exposição que mostrava os Jardins de Monet através de suas pinturas. A fila que enfrentamos para a exposição era extremamente grande, mas foi bom esperar um pouco até ver outros trabalhos de arte porque a forte experiência na casa de Aminah ainda precisava ser digerida. Um sentimento que não consegui definir me fez chorar baixinho. O choro interno renovou-me as forças e me fez refletir sobre como transformar o cotidiano numa sucessão de eventos encharcados de tesão, paixão, memória e força e, assim, transcender limites com aquilo que nos move.
Gostei da exposição de Monet, o mais interessante eram as obras de artistas contemporâneos que recriaram de maneiras bem surpreendentes os jardins do famoso artista francês. Foi um final bem criativo para o dia frio de Columbus. Minha primeira impressão sobre a cidade não foi muito boa porque não vi pessoas na rua. Parecia estar numa cidade-fantasma. Em parte por conta do domingo, em parte por conta do frio que chegou a 10º negativos.
As emoções experimentadas nas atividades do dia me deixaram excitado para o que estava por vir. Dormi muito animado e sonhei com os bordados cheios de detalhes do mundo de estórias de Aminah.
(*) "Symphonic Poem" ou "Poema Sinfônico" é o título do catálogo com as obras de Aminah Robinson.
27 de Janeiro de 2008
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