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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Vó D'alena

Se olho para trás na tentativa de buscar memórias da vida que passou, vejo a imagem de mi­nha avó. Sempre preocupada em me oferecer mais um biscoito, mais um café ou mais um bolinho de milho...

Vó Madalena ou simplesmente vó D’alena para os netos, mesmo em situações extremas, nunca levantou a voz para ninguém. Sua serenidade e calma reveladas traziam em suas entranhas uma força velada que ela usava para lidar com as desventuras de ser mãe de 10 filhos e com as perdas que a vida foi colocando em seu caminho.

Por muito tempo foi costureira de mão cheia em Lagolândia e passava dias e noites cosendo as roupas da Festa do Divino e dos eventos sociais da cidadezinha. Seus biscoitos de queijo sempre foram os melhores que já experimentei e ninguém fazia bolinho de milho tão redondinho e gostoso como ela. Apesar de não me lembrar do calor do seu colo, lembro-me da vó D’alena dos delicados silêncios, das “geladinhas” de leite e suco, das roscas em forma de cobra que tinham os olhos feitos com feijão preto, do grande quintal, palco de metade das brincadeiras de minha infância, da voz complacente me chamando de “filho”.

Neste domingo, dia 17 de fevereiro, minha vó arranjou um jeito de ir embora com a mesma discrição e delicadeza que permearam seus atos enquanto viveu. No final de um sono tranqüilo ela passou para a eternidade deixando filhos, netos e bisnetos sem sua presença maternal.

Vê-la partir assim, deixou-me com a sensação de perder, junto com ela, o elo derradeiro que me ligava à presença viva do meu pai. Sem ela, parte do que me constitui se esvai como grãos de areia varridos pelos ventos da memória.

19 de fevereiro de 2008
Imagem capturada em http://www.thatblackgirlart.com/little_blue_girl.html

Um comentário:

Dárcy Destéfano disse...

Estou lendo isso entre lágrimas, vc descreveu muito bem quem foi essa pessoa de um valor incomparável...