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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mistérios Gozosos


A seleção que faço dos pensamentos vagos para postar aqui no blog pode até parecer toda a composição do meu horizonte pessoal, mas felizmente não é. Eu próprio, perante minhas escolhas, por vezes, ao escrever, me faço autor de uma escrita bonitinha, varrendo as farpas daquilo que me faz um cara normal para debaixo do tapete. Tudo como um filminho, todo "inho", tipo apresentação brega em Power Point.

Outro dia escrevi "punheta" em meio a palavras sobre as delícias da boca, e uma boa parte dos/as leitores/as conhecidos se empertigaram dizendo do estranhamento de ver expressão dessa natureza por aqui. Por minha culpa [minha tão grande culpa] mostro sensatez ao invés de confusão, sobriedade em vez de porraloquice, calmaria mesmo quando o peito parece um vulcão. Equilibrista em corda bamba, tudo suporto numa falsa inocência, tão linda que nem tenho noção.

Aliás, tenho sim! É, a verdade é que não consigo deixar de admirar as pessoas que têm o mundo dividido em dois. Aquela lição dicotômica e católica de bem e mal. Aquela coisa dos filmes de vilões e mocinhos que eu vivo tentando instaurar na vida real com minha parca pretensão de que os finais sejam sempre felizes.

No entanto, que a vida não tem cura, o tempo me ensina, dia após dia. Preciso mesmo é relativizar mais. Profanar mais ainda. Achar lógica na postura insensata e não me culpar por ser tão maleável, mesmo sabendo que nem todo mundo vai ficar satisfeito com minhas atitudes.

Sempre me mostro pelas idealizações. Platonismos. Exercício de suposições doces, irreais - mas tão boas para se matar o tempo e, assim, ser colocado em altares de pura ilusão. Sempre preferi dizer de um mundo edulcorado enquanto o coração, amargo, conjura pragas e maldições.

A verdade é que, silenciosamente, fito as pessoas e os problemas e as tempestades e as intempéries com olhos de-não-estou-nem-aí. Porque ninguém é só inocência, integridade e candura.

Pergunto: continuamos bonitos apesar das cicatrizes e das obscuridades que fazemos quando ninguém está olhando?

Leviano, sinto como se a beleza escorresse por meus dedos em mistérios gozosos. Porque minhas mãos, na verdade, são ásperas, duras, insensíveis. Quase estéreis. A não ser quando embalam punhetas de pura sacanagem e induzem a luxúrias e devassidões difíceis de nomear.

Imagem: Wolney Fernandes

2 comentários:

Cláudia Bastos disse...

Wolney, quando alguém, como vc, que transforma imagens em poesias, diz algo como "punheta" assusta...rs, o q será q assombra, a palavra ou o ato em si? Ou saber q vc tb é normal e atende as necessidades do corpo e da mente? Simplesmente adoro ler vc! Bjs, Cláudia Bastos

Anônimo disse...

Lindo!

Carlos Vieira