sábado, 12 de janeiro de 2013
Entre nobres e criados
Em uma das melhores cenas de Downton Abbey - série inglesa que tem tomado minha atenção e deslumbramento - diante da fala do advogado Matthew ao explicar que pode exercer a profissão de segunda a sexta e cuidar de Downton nos finais de semana, Lady Violet - matriarca da família que nunca trabalhou na vida - pergunta assustada: "O que é um fim de semana?"
Essa pequena pérola resume o brilhantismo do texto que conduz a trama do seriado que se passa em 1912, período onde transformação era a palavra de ordem. Desde o naufrágio do Titanic até as mudanças provocadas na sociedade inglesa pela Primeira Guerra Mundial, vemos desfiar as reviravoltas que conduzem o dia a dia da família Crawley, dona da propriedade que dá nome a série.
Mas falar de Downton Abbey é dizer também daquilo que acontece escada abaixo, nos corredores, dormitórios e cozinha onde a "criadagem" também faz fervilhar a vida em suas mais diversas nuances. É impagável e, na maioria das vezes, tocante, perceber como a vida dos criados era intimamente ligada a dos patrões em absurdos difíceis de se fazer entender na atualidade. No entanto, desobediência, insubordinação, romance, traição e pequenas tragédias costuram, com habilidade ímpar, os acontecimentos vivenciados nos ricos aposentos aos vividos nos porões da propriedade.
O conde de Grantham é pai de três filhas e se vê obrigado a casar a mais velha com um homem de dentro da família para não perder o título e a propriedade. Como o pretendente oficial morre no naufrágio do Titanic, a solução é encontrar um primo distante, Matthew, para dar conta da tarefa de "domar" Lady Mary, a filha mais velha.
A partir daí, as mais diversas reviravoltas criam uma história de convivência que, da perspectiva de ambas as classes sociais, conferem a quaisquer espectadores da série inúmeras identificações: riqueza e pobreza, honestidade e deslealdade, tradição e vanguarda... isso sem mencionar o drama e as paixões silenciosas experimentadas por vários personagens.
Contando ainda com uma qualidade técnica que recria com muito esmero aquele período, Downton Abbey merece ser vista e revista porque, além do humor irônico típico dos britânicos, ainda apresenta os diversos modos de lidar com tecnologias advindas da revolução industrial e que mudariam o mundo para sempre.
Qualquer semelhança com a época em que vivemos não terá sido mera coincidência.
Imagens capturadas aqui.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário