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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Quereres, mentiras e desatinos de ano novo


Todo princípio de ano eu suspeito dos meios, mas nunca tenho ideia dos fins. Não é de hoje que meus desejos se transmutam em realidades que nem sempre dão conta das vontades todas. Considerando que a única constante da vida é a certeza da mudança, faço dessas resoluções de ano novo desatinos primeiros que levarão a desatinos segundos ou até a mentiras que foram sonhadas como verdades nos primeiros dias de janeiro.

Apesar de gostar de listas, a vida não pode reduzir-se a prioridades que a gente vá simplesmente riscando e passando aos itens seguintes. Descabida que só, a vida transborda para além das nossas tentativas de dobrar o tecido do universo com as mãos. Há porém, um conselho dado pelo gato à Alice - aquela do País das Maravilhas - que me faz refletir: "Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve". Felizmente já tenho idade suficiente para saber que não quero seguir qualquer caminho. E nem tenho tempo para tal aventura [ah, meus vinte anos...].

Gosto de saber que priorizar metas me ajuda a focar esforços e a diminuir ansiedades. O exercício proposto aqui nem se trata de resoluções grandiosas ou mudanças bruscas, mas da certeza de que recomeçar é muito bom, mesmo que seja só para desfiar continuidades, dia após dia. Nada de página em branco, pois todos os hábitos, conhecimentos e obrigações continuam valendo e, talvez os cinco quilos que eu preciso perder fiquem aqui, mas a brevidade da vida me traz quereres assim:

Sobre o tempo e aqueles caprichos
1. Fazer pausas, ter tempo de olhar para o tempo. Reservar os finais de semana para gastar com vontades e atividades outras que não tenham relação direta com o trabalho semanal. Parar durante o dia para ouvir aquela música que eu adoro ou olhar para o movimento da rua, lá fora.

2. Procrastinar menos, me organizar para as ideias renderem ações e ter respostas rápidas para os e-mails que se acumulam ou as questões que precisam de encaminhamentos.

3. Priorizar meu trabalho artístico e valorizá-lo na medida da minha experiência pessoal, entendendo-o como possibilidade de atuação dentro e fora dos espaços acadêmicos. Viabilizar o projeto e a publicação de um livro meu.

Sobre os acúmulos desnecessários
4. Ler os livros que eu já tenho antes de comprar novos. O mesmo vale para os filmes que adquiri, mas que ainda não assisti.

5. Fotografar menos. Vivenciar as experiências antes de querer registrá-las com fotos.

6. Não trocar o guarda-roupa, mas fazer minhas roupas caberem em três portas.

7. Cuidar melhor dos meus gastos. Gerenciar o que entra e sai da minha conta com mais propriedade e, quem sabe, fazer um fundo de reserva para viagens e outros prazeres do tipo.

Sobre autoconhecimento e essa tal felicidade
8. Prestar atenção nas pessoas que me ajudam na árdua tarefa de me conhecer melhor, pois todo processo de autoconhecimento passa também pelo/a outro/a.

9. Aprender a cozinhar. Substituir doces por frutas e, às vezes (só as vezes), fazer o contrário!

10. Fazer exercícios físicos, nem que seja uma caminhada. Sempre que possível, andar a pé. Dormir mais. Optar por ficar mais tempo diante de mim mesmo do que diante de uma tela de computador.

11. Dizer "não" sem sofrer e buscar derramar o que sinto na medida da minha vontade, sem sufocá-la.

12. Olhar para as pessoas que encontrar. Ser cordial e cortês, mesmo em situações complicadas. Crer.

E se ao final de 2014, nada disso fizer sentido, continuar acreditando nos sentidos que existem em cada recomeço... a cada dia.

Feliz 'hoje' pra todo mundo!

Imagem de Vânia Mignone. Peguei aqui.

3 comentários:

Tales disse...

Achei lindíssimas as tuas proposições de ano novo. Ou ano continuado. O melhor ainda é que elas se abrem à possibilidade do transbordar, uma convite à maturidade e à diversão. Tão raro ver essas duas juntas. :)

wair de paula disse...

rapaz, praticamente o mesmo de minha "lista" - excetuando-se o fato de cozinhar (que no meu caso está "aprender a nadar" apesar da idade...)e fotografar menos - realmente não sou adepto desta prática, de resto parece que talvez seja uma espécie de padrão para o homem contemporâneo.
forte abraço, feliz 2014.

Unknown disse...

Otimo.