Foi assim em 1991, 1994, 1997, 2000, 2004, 2009 e agora: navego em uma sensação muito forte de que esse tempo é próprio das transições. Meus ritos pessoais de passagem não são fáceis e eu nunca decoro a cartilha das escolhas. E olha que nem estou falando daquelas entre o bem e o mal, mas toda pequena escolha [água com ou sem gás? camisa vermelha ou azul? casa ou academia? direita ou esquerda?...] ainda carrega um tantinho de dificuldade.
"Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo".*
Cecília Meireles que me perdoe, mas melhor do que "Ou isto ou aquilo" seria "Isto e aquilo".
Pensar sobre as transições me deixa com vontade de silêncios. Continuo completamente normal por fora, mas por dentro coisas graves acontecem. Muitas vezes coisas até obscuras, dessas que não se revelam em realidade. Destas que tiram a vontade de atender ao telefone ou dizer bom dia no trabalho.
Em dias assim evito o espelho. É que perder a inocência nada tem a ver com a primeira vez. É original a cada troca de pele, a cada nova folhagem. Fico sério quando estou só, mas também experimento uma felicidade bem particular. Um estado de espírito quase egoísta, que não se permite compartilhar. E assim, me fecho sem chaves, procurando me revelar quase inteiro pra mim.
Foto de Jesús González. Olhei aqui.
(*) Trecho do poema "Ou Isto ou Aquilo" de Cecília Meireles
2 comentários:
Tudo é escolha.
Às vezes dá pra ter "isto e aquilo", mas isso também é uma escolha.
Engraçado que lembrei agora de que algumas pessoas falam "escolher feijão" quando o preparam para levar à panela: a vida é isso, é escolher o que há de bom para nos alimentar.
Beijin,
esse troço de perder a(s ) inocência(s) tem me deixado encucada. quando penso que já foi tudo; pluft! lá se vai um pouco mais descendo ladeira abaixo...
:)
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