
01. Janeiros - Roberta Sá
Todas as cartas de amor são
Ontem foi o lançamento do livro "Cartas na Mesa" do meu amigo Rafael Vieira. Pela primeira vez, além da ilustração da capa, eu também assino o prefácio da obra. Nas palavras do autor, a idéia do livro surgiu à partir da leitura freqüente do meu blog e, mais especificamente, das minhas cartas à Sofia.
Abotoei a bragrilha da calça com um movimento preciso e me virei em direção à saída do banheiro. Antes de atravessá-la pude ler algumas obscenidades escritas na porta com caneta Bic e saí distraído sem me dar conta da paisagem estranha que se esparramava diante dos meus olhos.
Querida Sofia,
Eu aqui.
O Filme:
"Na parede de um botequim em Madri, um cartaz avisa: Proibido Cantar!
Sem querer olhei pela janela e vi a chuva cair silenciosa. A paisagem conhecida, agora se mostrava encoberta por uma "brancura em forma de véu". O ritmo compassado dos pingos d'água me hipnotizou. Então eu saí com aquela vontade de que a chuva me cobrisse também. Talvez buscando um jeito de lavar minhas incoerências sem que fosse necessário fazer nada mais além do que caminhar. No meio da Avenida eu dei passos em câmera lenta sem ouvir ou ver quem me rodeava. Ali, erámos só eu e a chuva, naquela intimidade de arrepiar cada pedacinho de corpo desvelado. Ali, a água que me banhava era minha reza. Ali, eu era menino sem medos. Ali, eu e a chuva...
"- Não há medo mais curto. Na vida ou no amor a dor deve ser sentida. As alternativas são piores. A dor com que amamos é que nos faz especiais. Que nos faz bonitos... Mas essa dor é acompanhada de mais alguma coisa: a esperança. Com sua dor, há esperança! E é onde você está. Em algum lugar entre a agonia, o otimismo e a reza. E é isso que nós temos."
Olhei para o calendário ao lado do computador e inventei um conto trágico, sem palavras, todo bordado na minha imaginação. Que gosto amargo este novembro tem deixado em mim. Os dias longe do blog completam uma tentativa de assimilar toda esta realidade que de repente me tira o ar.
O Filme:
Toda vez é assim! Basta apenas uma mordida no Galak (aquele chocolate branco que fez sucesso nos anos 80) para que a paisagem que me cerca seja substituída por imagens do passado com gostos, cheiros e sentimentos da minha infância.
Por trás de algumas nuvens, posso acompanhar o suicídio do sol. São oito horas (maldito horário de verão!). Um caderno de rabiscos, um bom tempo olhando a cidade pela janela, acompanhando as cores pásteis do entardecer. Na minha filosofia de alcova, meus rituais de solidão começam todos com pensamentos no amanhã.
01. Mariposa Traicionera - Maná
Querida Sofia,
1. Fantasia
2. Pinóquio
Porque foi o único desenho que meu pai fez pra mim.
3. Branca de Neve e os Sete Anões
Porque eu gostava mais da bruxa do que da princesa.
4. Alice no País das Maravilhas
Porque o quintal da minha casa era aquele lugar mágico.
5. A Dama e o Vagabundo
Sossega, coração! Não desesperes!
Ontem eu chorei.
Ultimamente, meu jeito de amar tem sido pauta de minhas inquietações, tamanha é minha pretensão em filosofar sobre o assunto. Como o amor brota em mim? Pelo caminho da sensatez ele nunca durou mais do que alguns meses. Amor necessário é horrível. Bom mesmo é aquele amor que brota da insensatez, dos punhados de vezes que você se enche de coragem para pular de precipícios sem medos.
Houve um tempo em que minha janela se abria para uma rua de infinitos brinquedos. Misturado à sombra do Flamboyant, que teimava entrar pelo meu quarto, eu podia ver o rio lá embaixo e os cipós trançados aos pés de guiné no alicerce da casa. Do lado direito, sulcada entre pedras e matos rasteiros, uma trilha serpenteava até a próxima esquina. Com o cipó, eu fazia a corda de pular cantando. As peças pra jogar baliza eram pedrinhas robustas, selecionadas com o mesmo cuidado que um lavrador tem ao escolher as melhores sementes para o plantio. Nas idas para a casa da Vó, o 'trieiro' virava abismo onde eu tentava me equilibrar com um pé só para atravessá-lo sem medo de cair.